Em 2022, completa-se 200 anos desde que, à margem do Rio Ipiranga, Dom Pedro I vociferou o famoso “Independência ou morte!”, grito de bravura que simbolizou a transformação do Brasil em uma nação independente de Portugal. A efeméride é festivamente celebrada no concerto que a Orquestra Sinfônica Brasileira leva ao palco da Cidade das Artes nos dias 10 e 12 de junho. Com regência do maestro Claudio Cruz e participação do solista Giulio Draghi, o programa integra a Série Pianistas Guiomar Novaes e contará com obras de Sigismund von Neukomm, César Guerra-Peixe e a estreia mundial do Concerto para Piano, do carioca Rodrigo Cicchelli. A récita domingo será no formato “Concertos para a Juventude” – apresentações de caráter didático a preços populares (R$10).
Embora não fosse brasileiro, o primeiro compositor do programa – Sigismund von Neukomm – marcou a vida e a história musical do país quando, em 1816, desembarcou no Rio de Janeiro na comitiva do Duque de Luxemburgo. Aluno favorito de Joseph Haydn, Neukomm seria responsável por estrear aqui obras de seu mestre, mas também por inaugurar em suas composições uma prática que se tornaria marca registrada da produção musical nacional: aquela de mesclar elementos da música popular à música de concerto. Nos cinco anos em que morou no Brasil, Neukomm escreveu uma série de composições, atuou como instrumentista e teve uma marcante atividade como professor. Entre os seus alunos, estão Francisco Manuel da Silva (autor da melodia do hino nacional brasileiro) e D. Pedro I, que proclamaria a Independência do Brasil. A Abertura para Grande Orquestra, que será apresentada pela OSB neste concerto, é uma peça curta, mas de caráter grandioso, exultante, em que o estilo vienense é potencializado por uma orquestração mais robusta.
Foi às margens de um rio que D. Pedro I proferiu o famoso Grito da Independência; e é para uma peça de inspiração aquática de um talentoso compositor brasileiro que este concerto aflui após a Abertura de Neukomm. O público ouvirá a estreia mundial do Concerto para Piano de Rodrigo Cicchelli. Apelidado de “Netuno”, deus romano dos oceanos, a peça apresenta quatro movimentos, alguns com alusão direta a motivos marinhos. O concerto começa com uma “Abertura” de ímpeto movente, mas com episódios de divagações suspensivas e mágicas. Em “Fosforescências do Mar / Aivazovsky” – movimento seguinte – o elemento áqueo se anuncia não só através do título, mas também através das sonoridades. Depois de um “Scherzo” jocoso, a peça avança para seu finale, “Dança de Netuno”, que começa com uma longa e vigorosa cadenza para o solista, seguida de uma dança igualmente potente.
Fechando o programa, a OSB apresenta a obra Museu da Inconfidência, de César Guerra-Peixe. Na peça, o compositor retrata uma visita ao museu de Ouro Preto, em Minas Gerais, onde, no final do século XVIII, se desenhou um dos primeiros movimentos a favor da Independência do Brasil. De alto teor trágico, a composição se estrutura em quatro movimentos: uma “Abertura” cheia de tensões harmônicas; “Cadeira de Arruar”, em que convivem energia e ironia; “Panteão dos Inconfidentes”, em que é possível ouvir a aflição agoniante dos insurgentes mineiros embalada numa atmosfera fúnebre; e, finalmente, “Restos de um Reinado Negro”, cheia de contraste e com um poderoso solo para fagote. Concluída em 1972, Museu da Inconfidência foi premiada no Concurso do Sesquicentenário da Independência do Brasil, em 1972.
Concertos para a Juventude
Em 1943, a Orquestra Sinfônica Brasileira subiu ao palco do Cine Teatro Rex para dar início a um dos projetos que fariam parte de seu DNA: Os Concertos para a Juventude. As apresentações de caráter didático com entrada a preços populares são sucesso de público desde então, cumprindo seu papel de ampliação de plateia e democratização do acesso à música de concerto. Em 2022, as apresentações terão lugar de destaque na programação, levando músicos da OSB, regentes e solistas convidados aos palcos da Sala Cecília Meireles, Cidade das Artes e Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Serão, no total, treze apresentações, com ingressos a R$10. As récitas contam com apresentação da atriz Suzana Nascimento.
A ORQUESTRA SINFÔNICA BRASILEIRA:
Fundada em 1940, a Orquestra Sinfônica Brasileira é reconhecida como um dos conjuntos sinfônicos mais importantes do país. Em seus 81 anos de trajetória ininterrupta, a OSB já realizou mais de cinco mil concertos e é reconhecida pelo pioneirismo de suas ações, tendo sido a primeira orquestra a realizar turnês pelo Brasil e exterior, apresentações ao ar livre e projetos de formação de plateia.
Composta atualmente por mais de 70 músicos brasileiros e estrangeiros, a OSB contempla uma programação regular de concertos, apresentações especiais e ações educativas, além de um amplo projeto de responsabilidade social e democratização de acesso à cultura.
Para viabilizar suas atividades, a Fundação conta com a Lei Federal de Incentivo à Cultura, tem o Instituto Cultural Vale como mantenedor e a NTS – Nova Transportadora do Sudeste, como patrocinadora master e a Brookfield como patrocinadora, além de um conjunto de copatrocinadores e apoiadores culturais e institucionais.
SOBRE CLAUDIO CRUZ:
Iniciou-se na música com seu pai, o luthier João Cruz, e, posteriormente, recebeu orientações de Erich Lenninger, Maria Vischnia (violino) e Olivier Toni (Teoria e Regência). É formado em Filosofia-Licenciatura.
Foi premiado pela Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA), Prêmio Carlos Gomes, Prêmio Bravo, Prêmio Concerto, Grammy Awards entre outros. Tem atuado como Regente Convidado em diversas orquestras no Brasil, América do Sul, EUA, Europa e Ásia.
Foi Diretor Musical da Orquestra de Câmara Villa-Lobos, Regente Titular das Sinfônicas de Ribeirão Preto, de Campinas e da Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. De 1990 a 2012 ocupou o cargo de Spalla da Osesp.
Atuou como diretor musical e regente em diversas montagens de ópera, destacando-se as óperas Lo Schiavo, Don Giovanni, Rigoletto, La Boheme, Sonho de uma noite de verão de Britten, Il Signos Bruschino, entre outras.
Com a Orquestra Jovem do Estado de São Paulo participou do Festival MDR Musiksommer na Alemanha em 2012, Festival Young Euro Classic em Berlim em 2013, Festival Berlioz na França e no Grachtenfestival em Amsterdam em 2014, em março de 2015 realizou concertos no Lincoln Center em Nova York e no Kennedy Center em Washington.
Tem se dedicado a pesquisas, edições e gravações de diversos compositores brasileiros. Em sua extensa discografia gravou mais de 55 Álbuns. Atualmente é Regente e Diretor Musical da Orquestra Jovem do Estado de SP e primeiro violino do Quarteto de Cordas Carlos Gomes.
SOBRE GIULIO DRAGHI:
Giulio Draghi é pianista e professor na Escola de Música da UFRJ. Recebeu seu título de Doctor in Musical Arts (D.M.A) da Universidade de Miami, em 2007, graduando-se com honras, o que lhe valeu a nomeação para a mais antiga sociedade musical americana: The Society of Pi Kappa Lambda. Sua tese discorreu sobre a versão inédita da transcrição da Sinfonia Fausto, de Liszt, para piano solo, feita por Carl Tausig.
Sua decisão de se dedicar inteiramente à música nasceu de seu encontro com o saudoso pianista brasileiro Jacques Klein. Estudou no Brasil com Lia Gualda de Sá, Jacques Klein, Glória Maria da Fonseca Costa, Myriam Dauelsberg e, nos Estados Unidos, com Ivan Davis e Frank Cooper. Giulio obteve diversos primeiros lugares em concursos nacionais, destacando- se o Concurso Nacional Centenário Essenfelder. Como solista já se apresentou com orquestras como a Orquestra Sinfônica Brasileira, Petrobras Sinfônica, Sinfônicas de Brasília, Salvador, Porto Alegre, Paraná, Belo Horizonte e Espírito Santo.
Tem se apresentado regularmente como recitalista nos Estados Unidos e Canadá. Lançou recentemente um CD com obras de José Maurício Nunes Garcia, Carl Tausig e Mussorgsky pelo selo da Escola de Música da UFRJ. Seu repertório vai de Bach a Sorabji com uma predileção especial pelos compositores da Escola de Weimar. Em 2011, ano do bicentenário de Franz Liszt, apresentou em estreia mundial a versão inédita da Sinfonia Fausto de Liszt para piano solo feita por Carl Tausig. Em 2015, esteve em seis diferentes cidades do Brasil e EUA, executando a íntegra dos 24 Estudos de Chopin, recital este que foi gravado e exibido no programa Partituras da TV Brasil. Em 2016 lançou um DVD com os 24 Estudos de Chopin gravados ao vivo na temporada oficial da Sala Guiomar Novaes no Rio de Janeiro.
PROGRAMA 10/06:
Sigismund von Neukomm – Abertura para Grande Orquestra
Rodrigo Cicchelli – Concerto para Piano
I. Abertura
II. Fosforescências do Mar / Aivazovsky
III. Scherzo
IV. Finale “Dança de Netuno”
César Guerra-Peixe – Museu da Inconfidência
I. Entrada (Andante)
II. Cadeira de Arruar (Allegro Moderato)
III. Panteão dos Inconfidentes (Larghetto)
IV. Restos de um Reinado Negro (Vivace)
PROGRAMA 12/06:
Rodrigo Cicchelli – Concerto para Piano
I. Abertura
II. Fosforescências do Mar / Aivazovsky
III. Scherzo
IV. Finale “Dança de Netuno”
César Guerra-Peixe – Museu da Inconfidência
I. Entrada (Andante)
II. Cadeira de Arruar (Allegro Moderato)
III. Panteão dos Inconfidentes (Larghetto)
IV. Restos de um Reinado Negro (Vivace)
SERVIÇO:
Claudio Cruz, regência
Giulio Draghi, piano
OSB – Série Pianistas Guiomar Novaes
Dia 10 de junho de 2022 (sexta-feira), às 19h30
Ingressos: R$ 70,00 (R$35,00 meia)
OSB – Concertos para a Juventude
Dia 12 de junho de 2022 (domingo), às 11h
Ingressos: R$ 10,00 (R$5,00 meia)
Local: Cidade das Artes | Grande Sala (Avenida das Américas, nº 5.300 – Barra da Tijuca, Rio de Janeiro)
Ingressos à venda na bilheteria da Cidade das Artes e no site Sympla