O Sesc Madureira recebe, de 6 de agosto a 6 de novembro, a exposição interativa “Madureira em Transe”, uma imersão inspirada nos quintais, feiras e festas populares do bairro, através de imagens e esculturas de autoria do artista plástico e fotógrafo Edu Monteiro, com curadoria do escritor e professor do Instituto de Artes da UERJ, Maurício Barros de Castro. Os visitantes terão ainda acesso a uma programação paralela nos meses de exposição.
Durante um ano, Edu Monteiro fotografou, em Madureira, rodas de samba, quintais, feiras, além de manifestações religiosas nos terreiros de matriz africana, registrando pessoas, comidas típicas, instrumentos, objetos de culto e rituais. Algumas dessas imagens foram integradas ao livro “Quintais do Samba da Grande Madureira”, mas há todo um trabalho inédito, que estará à mostra no Sesc, incluindo um cruzamento de esculturas e imagens.
“Impressas em couro, as imagens ganham uma materialidade diferente e estabelecem um diálogo definitivo com o tambor, instrumento essencial nas manifestações afro-diaspóricas”, afirma o artista.
A abertura de Madureira em Transe vai contar com a ativação do ogâ Anderson Vilmar na instalação Trindade, produzida em colaboração com o artista Edu Monteiro e Bernardo Marques-Batista, que também assina a assistência de curadoria da exposição. Anderson Vilmar confeccionou especialmente para a mostra os três tambores do candomblé, Rum, Rumpi e lé, que ele vai tocar na abertura ao lado de outros dois ogãs, fazendo com que as imagens de Edu Monteiro dancem no ritmo dos toques que evocam os orixás, abrindo os trabalhos e trazendo axé para Madureira em Transe.
Interatividade
O tambor é, inclusive, o elemento chave da interatividade do público com a exposição. As pessoas poderão tocar os três tambores do culto aos orixás, chamados rum, rumpi e lé, e na cadência das batidas, imagens serão projetadas em uma tela diante delas.
A instalação, chamada Trindade, é um trabalho em colaboração do artista Edu Monteiro com o ogã Anderson Vilmar e Bernardo Marques-Batista, que desenvolveu o suporte tecnológico, que nomeou como personal ogã, e que também assina a assistência de curadoria da exposição. Mesmo os que não têm familiaridade com o ritmo dos terreiros, não precisam se preocupar com a performance, garante o curador. “O convite também é para diversas sonoridades possíveis”, diz ele.
Transe e herança
O conceito de transe, que dá título à exposição, começa logo na entrada do Sesc, onde os visitantes verão grandes fotografias impressas em tecidos.
“É como um convite para que entrem no espaço da mostra, iniciando assim a transição, o transe, que também marca os rituais de origem afro-diaspórica”, explica o criador, Edu Monteiro.
De acordo com Maurício Barros de Castro, a ancestralidade africana fez de Madureira um bairro protagonista na formação cultural do Rio de Janeiro.
“Madureira é um bairro fundamental para afirmação da herança africana no Rio de Janeiro, além de celebrar os quintais, feiras e terreiros como alicerces de sua comunidade. Portanto, se coloca como um território onde o transe pode ser pensado de forma expandida, evocando ambientes do sagrado e do profano, remetendo a uma cultura sempre em movimento e, ao mesmo tempo, vinculada à sua ancestralidade”, analisa ele.
SERVIÇO
Exposição Madureira em Transe
Sesc Madureira: Rua Ewbank da Câmara, 90 – Madureira – Rio de Janeiro
De 6/8 a 6/11/2022
Visitação: de terça a sexta, das 10h às 20h, e sábados, domingos e feriados, das 10h às 17h
Classificação etária: Livre
Ficha técnica
Realização: Rapsódia Empreendimentos Culturais
Artista / Concepção Artística: Edu Monteiro
Curadoria: Maurício Barros de Castro
Assistência de Curadoria: Bernardo Marques-Baptista
Consultoria Técnica (Arte e Tecnologia) e Expografia: BWMB Arte e Mídia
Produção Executiva: Rapsódia Empreendimentos Culturais
Montagem: Moises Barbosa / Kbedin Montagem e Produção Cultural
Serviços Gráficos: Gouvea Artes
Edu Monteiro
Edu Monteiro é artista e doutor em Artes pela UERJ (2018) contemplado com o programa PDSE – CAPES junto à Universidade das Antilhas, Martinica, local onde pesquisou a Ladja. Como desdobramento desta pesquisa, também passou duas temporadas no Senegal. Edu materializa suas investigações sobre as danças de combate e outras manifestações africanas e diaspóricas através de objetos escultóricos e fotografias. Uma travessia que navega nos gestos de resistência corporal e nos atravessamentos das fronteiras físicas e culturais de suas expressões na contemporaneidade. Também realizou as exposições “Corpos em Luta” na galeria Movimento (2019) e “Costas de Vidro” na Z42 (2018), ambas no Rio de Janeiro e “Invisible Fight” no China Art Museum em Shanghai, China (2017). Foi contemplado com o primeiro lugar no XVI Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia (2022). É autor dos livros Paisagem Vertical (Nau editora, 2022), Autorretrato Sensorial (Pingadoprés, 2015) e Saturno (Azougue Editorial, 2014) e foi responsável pelo ensaio fotográfico do livro Nos Quintais do Samba da Grande Madureira (Olhares, 2016). Como artista possui obras no acervo do MAM-RJ/Coleção Joaquim Paiva– RJ, entre outras. É representado pela galeria Movimento.
Maurício Barros de Castro
Maurício Barros de Castro nasceu em 1973, em Niterói (RJ), e vive no Rio de Janeiro. É escritor, pesquisador e curador independente. Doutor em História pela USP, é professor do Instituto de Artes e dos programas de pós-graduação em Artes (PPGARTES) e História da Arte (PPGHA) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Foi professor visitante na Universidade da Califórnia, Berkeley. Realizou a curadoria das exposições Carlos Vergara: Carnavais Revelados (Galeria Índica, 2016), Esqueleto: Uma História do Rio (com Fred Coelho, Galeria Aymoré, 2019), ESQUELETO: 70 anos da UERJ (com Analu Cunha e Marcelo Campos, Paço Imperial, 2019-2020) e Pixinguinha: um maestro batuta (com Julio Ludemir e Marcelo Campos, Museu de Arte do Rio, 2022). É autor, entre outros livros, de Zicartola: política e samba na casa de Cartola e Dona Zica (2a ed., 2013). Pela Editora Cobogó, publicou Carnaval-Ritual: Carlos Vergara e Cacique de Ramos (2021), Arte e cultura: ensaios (org., 2019) e Gilberto Gil: Refavela (2017). Entre 2013 e 2014, viajou por nove países africanos em busca dos lugares de memória da escravidão no continente, uma aventura que resultou no livro Do outro lado (2014) e inspirou a série de documentários Sankofa: a África que te habita (2020).