A Escola de Samba Unidos do Jacarezinho divulgou a sinopse do seu
enredo para o Carnaval 2020: “Do Professor ao Sucessor. Brilha o
passado e o presente Azul e Branco”, de autoria e desenvolvimento do
carnavalesco Flavio Lins.
A agremiação será a 8ª a desfilar pela Série C, da Liesb, na
Intendente Magalhães, na segunda-feira de carnaval (24/02/2020).
Confira a sinopse.
GRES UNIDOS DO JACAREZINHO – CARNAVAL 2020
Enredo: “Do Professor ao Sucessor. Brilha o passado e o presente Azul
e Branco.”
Carnavalesco: Flavio Lins
“Antigamente era Paulo da Portela, Agora é Paulinho da Viola.
Paulo da Portela, nosso professor. Paulinho da Viola, o seu sucessor.
Vejam que coisa tão bela. O passado e o presente da nossa querida Portela…”.
(Francisco Santana / Monarco)
De trem, empurrados pelas transformações urbanas ocorridas no centro
da capital da então Jovem República, em meio a tantos infortúnios, um
grande contingente de desvalidos chega aos subúrbios.
Fugidos ou perseguidos, os negros trazem sua música, sua dança, sua
religião, sem esconder a dor sob o árduo sabor de sobreviver, fazendo
da arte “um novo amanhecer”. Guiados pela espontaneidade poética,
germinam a semente artística da batucada lá pelas bandas de Oswaldo
Cruz… e transcendem da hostilidade e do desconforto: sem luz, sem
água, à margem da cidade, mantendo vivas as tradições da Mãe África.
A arte e as expressões culturais se reafirmam e enobrecem uma vida
social marcada por festas religiosas e manifestações herdadas de seus
antepassados, e encontram na região um alento à preservação.
O povo reza, canta, dança, resiste… Sua cultura resplandece à
realidade. A força é a luz da sabedoria, que ilumina Paulo da Portela
ao posto de líder, sambista e defensor do povo negro. Com seus
ensinamentos a redenção: o “samba de batucada” ganha visibilidade. E
nesse contexto, o enredo deste samba veste-se de Paulo da Portela,
percorrendo seus feitos e glórias, e coroa-o professor. Ruma aos
encantos, frutos de sua história e encontra-se com a genialidade de
Paulinho da Viola, o seu sucessor.
De Paulo a Paulinho
Paulo Benjamin de Oliveira viveu por muitos anos na Praça Onze, até se
mudar com a mãe e a irmã para Oswaldo Cruz, subúrbio carioca, no
início da década de 20. De família pobre, começou a trabalhar cedo. No
subúrbio, conheceu animadas rodas de pagode, Jongo e Caxambu.
Filho de violonista, Paulinho da Viola cresceu num ambiente musical.
Sua infância em Botafogo foi regada por muita música e histórias. Ia
do jogo de botão ao futebol na rua com bola de meia e presenciando
grandes encontros em sua casa, onde viu tocar nomes como Pixinguinha e
Jacob do Bandolim.
O primeiro bloco surgido em Oswaldo Cruz foi fundado por Paulo da
Portela: “Ouro sobre azul”. Não era um bloco de samba, e sim de
marcha-rancho. O samba só chega a Oswaldo Cruz através das festas
religiosas na casa de “seu” Napoleão José do Nascimento, pai do
lendário Natal, que contava com a presença de Dona Benedita, vinda do
Estácio acompanhada de Brancura, Baiaco, Ismael Silva e outros bambas
que estavam desenvolvendo este ritmo no morro de São Carlos.
Frequentador também da casa de D. Esther, festeira e já acostumada a
brincar o Carnaval, onde se realizavam festas de candomblé e rodas de
samba. Ela foi fundadora do bloco “Quem Fala de Nós Come Mosca” e em
sua casa reúne gente como Roberto Silva, Donga, Candeia e Pixinguinha.”
Paulinho, além do contato com o mundo do choro, na sua juventude
frequentava a casa de sua tia Trindade, em Vila Valqueire. Lá brincou
diversos carnavais, uma experiência marcante para sua formação como
sambista, criando com seus amigos o bloco “Foliões da Rua Anália
Franco”. Diante disso a escola União de Jacarepaguá, que era da
região, convidou os jovens foliões para integrar seu conjunto, tendo
assim seu primeiro contato com uma escola de samba.
Paulo figura importante, extraordinário homem, sensível, mas destemido
defensor do povo negro, à frente do seu tempo, brigava pela dignidade
e respeito ao sambista. Contribuiu para que o Samba, hoje considerado
Patrimônio Imaterial da Cultura Brasileira, ganhasse visibilidade. O
Professor lutou incansavelmente para mudar a imagem estereotipada e
preconceituosa que se tinha do sambista, do malandro e vagabundo, para
o artista de respeito. Com Antônio Caetano e Antônio Rufino dos Reis,
criou o “Conjunto Oswaldo Cruz”, que depois foi renomeado para “Quem
nos Faz é o Capricho”, “Vai Como Pode”. Reza a lenda que um delegado
da época, só renovaria a licença para os desfiles se o nome fosse
mudado, surgindo então Portela, em referência à Estrada do Portela.
Por intermédio do seu primo Oscar Bigode, em 1964, Paulinho foi
apresentado a agremiação de Oswaldo Cruz, daí foi logo incorporado à
Ala de compositores. Em 1966, apresentou o samba “Memórias de Um
Sargento de Milícias”, escolhido como samba enredo para o carnaval
deste mesmo ano, onde a Portela foi campeã.
Em 1937 Paulo foi eleito Cidadão Samba e em 1941, após uma série de
shows voltando de São Paulo para o Carnaval, antes do desfile se
desentendeu com integrantes da escola e foi aí que deu-se o seu
afastamento da Portela.
Paulinho em 1970 compôs “Foi um Rio que passou em minha vida”, que
tornou-se o seu maior sucesso e afirmou sua paixão pela escola do
coração, transformando a música em um hino de exaltação à Portela.
Muitos críticos definem sua obra como uma ponte entre a tradição e a
modernidade, um elo do passado com o presente da MPB.
Paulo saiu da Portela, mas jamais sairia dos corações Portelenses e do
sambista como um todo. Não a toa em 1984, em uma grande homenagem a
Ele e aos também lendários Natal e Clara Nunes, Portela cantava
“Contos de Areia”, atingindo seu vigésimo primeiro campeonato.
A bela canção de Francisco Santana e Monarco nos trás a liderança e a
sabedoria de Paulo da Portela, o Professor, inspiração para tantas
gerações e Genialidade de Paulinho, seu Sucessor e como ele mesmo diz:
“Não vivo do passado, o passado vive em mim”, e é com ele que recria e
vem nos surpreendendo com sua música. Ao fim das contas, falar de
Paulo, de Paulinho, é falar da Portela, falar de uma semente plantada
há 96 anos, em que suas raízes que, se hoje são fortes, é porque foram
regadas de muita luta, busca de dignidade e respeito.
É falar dessa árvore que deu e dá frutos, vinte e dois campeonatos,
que continua sendo regada e preservada nos corações apaixonados de uma
enorme e guerreira nação Azul e Branco.