GRES Difícil é o Nome divulgou a Sinopse do enredo Carnaval 2020

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A Escola de Samba Difícil é o Nome  divulgou a sinopse do enredo para o Carnaval  2020: “As vozes das divindades, na proteção dos ogans”, em homenagem àqueles que são responsáveis por manterem vivas as matrizes rítmicas da África nos centros de Candomblé e Umbanda.

O enredo será desenvolvido pela Comissão de Carnaval da Escola, que conta com a participação dos artistas Ygor Lioi, Ruan Lucena, Laís Vianna, Luciano Moreira e José L. Laranjo.

A Difícil é o Nome será a sexta agremiação a desfilar pelo Grupo Especial da Intendente Magalhães, na segunda-feira de carnaval (24/02/2020).

Confira a sinopse.

GRES Difícil é o Nome – Carnaval 2020

Enredo: As Vozes das Divindades na proteção dos Ogans

Desenvolvimento: Comissão de Carnaval

SINOPSE

Justificativa:

Viemos contar uma longa história, que poderia ser passada de diversas formas, a partir de uma série de pontos de vista. Uma verdadeira miríade de possibilidades, uma colcha de retalhos! No entanto, escolhemos uma específica para compartilhar com todos vocês.

Primeiramente, antes do nosso conto, devemos ressaltar que fluxos migratórios provenientes do continente africano trouxeram várias etnias com costumes próximos e às vezes muitos distantes. Em sua chegada ao que conhecemos nos dias de hoje como Brasil esses grupos muitas vezes foram misturados, além é claro de terem se localizado em várias partes de um país com dimensões continentais. Só isso já explica o surgimento de práticas religiosas que ao mesmo tempo em que se aproximam também se distanciam. Surgem diversos cultos e várias religiões que são frutos da mesma matriz: da mãe África.

Angola, Ketu, Nagôs, Jejes e entre outras nações contribuíram de muitas maneiras na origem do Candomblé, Umbanda, Quimbanda, Encantarias, Tambor de Crioula e entre outros. Isso sem contar a influência das várias etnias indígenas, num processo de bricolagem e ressignificação de cultos africanos. Sendo assim, cada um tem a sua importância no que conhecemos hoje como uma história afro-brasileira.

Tivemos que escolher um recorte, visto que, há uma grande quantidade de atributos nessas várias religiões de uma mesma matriz. Uma opção feita para um desfile específico e que não desmerece as outras. Então, agradecemos aos nossos guias pela oportunidade e desejamos uma boa viagem nesse lindo conto, onde as Vozes das Divindades estão protegidas pelos senhores, pelos chefes, pelos líderes, por aqueles que têm uma importância ímpar dentro dos seus cultos, nossos OGANS!

Enredo:

Licença aos mais velhos, que o axé de todos os Orixás esteja conosco nessa caminhada…

Laroiê Exu!

“Elégbára réwà, a sé awo

O Senhor da Força é bonito, vamos cultuá-lo

Bará Olóònòn àwa fún àgò

Exu do corpo, senhor dos Caminhos dê licença

E Elégbára Elégbára Èsú Aláyé

Senhor da Força, Senhor do Poder

Cumprimentamos o rei do mundo” (1)

É Exu – como sempre – abrindo os trabalhos, só que o alimento dessa vez é ele quem dá. Princípio de todas as coisas, é, a um só tempo, mensageiro e guardião. É ele que cuida do caminho para o Orum e decide que oferendas chegarão a Zambi e quais não chegarão. O primeiro alagbé é também quem cria o primeiro Ogã, dando origem ao seu ciclo infinito.

Nesse sentido, torna-se um representante direto de Exu no Xirê, é o ogã quem leva os pedidos e traz as bênçãos!

Angola, Congo, Ketu, Jêje, Nagô… Brasil. Protetor do Candomblé, responsável pelos axés, quem dá a vida aos assentamentos, e quem liga Orun e Ayê no toque que traz e que leva as vozes das divindades.

Predestinado a ser, desde o nascimento. A confirmação vem do Orixá, suspenso!

No começo de tudo, diz um antigo Itan (2) (uma lenda, um conto) que no antigo Orun, o céu na tradição africana, era um lugar de grandes festejos. Lugar onde os Orixás faziam grandes festas e reuniões em celebração a vida. Nesta época, o grande responsável por animar as festas, por tocar os tambores e entoar as cantigas era Exu. Uma função que ele adorava desempenhar. Um belo dia os Orixás querendo conversar sem tanto “barulho”, pediram a Exu que parasse de tocar os tambores e que tivesse fim a cantoria. Ele decidiu que não tocaria e cantaria mais em festas. Logo, os Orixás perceberam que um festejo sem o som dos tambores e as cantorias era algo triste, sem alegria. Decidiram pedir a Exu que pudesse voltar a tocar e trazer animação ao ambiente, no entanto, ele não aceitou. Com o que foi feito, ficou completamente magoado, pois tocava com muita felicidade e disposição. Os Orixás por sua vez insistiram para que ele pudesse voltar a fazer aquilo com o gracejo de sempre. Ele não aceitou e disse que tinha perdido a vontade de cantar, mas que iria passar a tarefa para a primeira pessoa que aparecesse. Desta forma, Ogã, um jovem, caminhou na direção de Exu, sendo escolhido por ele para que pudesse passar todos os cânticos e toques em louvor aos Orixás. A partir daquele momento, Exu determinou que todos os homens responsáveis por animar as festas dos Orixás viessem a se chamar Ogã.

O que vemos hoje em dia é que, com o passar do tempo, dentro dos cultos surgiram várias funções destinadas aos ogãs nas diferentes nações, cada um com uma especificidade e responsabilidade. Em linhas gerais, costumam ser escolhidos pelos Orixás para que estejam lúcidos durante os trabalhos, não entrando em transe, mas mesmo assim tendo intuição espiritual.

São sacerdotes importantíssimos para a manutenção da casa e realização do xirê. Entre eles, os principais são: o que cuida do peji (que é o altar da casa) e zela pelos assentamentos, normalmente o mais velho e mais sábio; o tocador de atabaque que é o elo entre o Orún e o Ayé na hora do Xirê (3); o responsável pelos sacrifícios que é chamado de babá/pai e que normalmente é uma pessoa de suma confiança do líder; o responsável pela coleta de folhas e ervas e o responsável pela casa de Exu, sendo que os conhecimentos desses ajudam na firmeza da casa.

Colhe ewé, prepara o omieró,

Kosi ewé, kosi Orisá

Pega o alguidar, traz o obì, prepara o peji Com òbe realiza o Orò: vida! Renasce Orisá.

Tocando Ilú, dá um alujá,

Dá um agueré, dá um ijexá

Ou um adarrum

Traz pro Àyé o Òrun

Para ter o cargo de ogã, primeiramente acontece a suspensão, quando um indivíduo é escolhido pelo orixá da casa para exercer a função. O mesmo se “senta” numa cadeira e é automaticamente escolhido para o cargo. Quem determina esse posto normalmente é o babalorixá ou a Ialorixá, guiados pelo jogo de búzios em comunicação direta com Orixá.

Eis o grande começo para uma trajetória de respeito, responsabilidade e proteção!

Tendo sido realizada a suspensão do ogã, é necessário o mesmo ser confirmado, fato que ocorre durante todo período de feitura. Essa é a segunda etapa dos suspensos e que desejam se aprofundar no culto. Para isso, acabam por se recolher durante um tempo, começando o que é chamado de iniciação e que acontece nos primeiros 7 dias de recolhimento, onde é feito um ritual de purificação, chamado de ebó, concomitantemente com o assentamento do Povo de Rua.

Assim, temos em seguida o ritual de feitura do santo, realizado na maioria das vezes no quarto de santo e sendo determinada essa ação pelo Orixá através do jogo de Búzios. Uma vez findada a feitura, inicia o processo chamado de resguardo, onde a pessoa fica em completa sincronia com o seu Orixá, mantendo desta forma o que chamam de purificação corporal e espiritual omorixá. Ocorre de fato uma grande proximidade com a divindade, que é amplificada com uma alimentação mais saudável e rezas diárias.

Logo depois acontece o que chamam de saída, onde ocorre uma apresentação do omorixá e o orixá para o povo de santo. Nesta, são convidados os líderes de outras casas de axé, seus respectivos filhos, amigos e familiares. Ogã saí de braços dados com o seu orixá e o mesmo ao final pula para poder dar o nome e seu santo, um ritual primoroso com uma intensidade de cores, gestos, cânticos e sons. Todo esse festejo é um verdadeiro momento de congraçamento, um ensejo ímpar para aqueles que terminam sua iniciação. Nesse momento a figura de pai fica cada vez mais fortalecida, é onde o indivíduo passa a ser considerado um líder dentro da casa.

Há de se dizer que é fundamental e muito comum realizar comemorações em datas especificas de obrigações, como: 1 ,3, 5, 7, 14 e 21 anos e assim por diante, variando de nação para nação, e de casa para casa.

Essas datas são comemoradas como forma de fortalecer seu vínculo com o seu regente, por conseguinte, fortalecendo seus pais de axé.

Ogãs são considerados como pais. Devem ser respeitosos, ter atitudes corretas dentro da casa de candomblé. Têm muitas responsabilidades, desde os serviços pesados, como o trato dos bichos, até os ensinamentos e a proteção da casa e de seus filhos.

Ser um ogã não é somente saber tocar atabaque ou cantar. Ser ogã é abraçar a responsabilidade de ser pai, chefe ou líder. Estar entre Exu e Oxalá, grandes pais do Orum, é um privilégio. Ter acesso a eles reforça sua figura como um pai “superpoderoso”. Do seu atabaque, através do som que gera e administra, ou pelos seus cânticos, ele tudo provê e protege. É um o próprio porta-voz de Exu, por ele passam todos os pedidos, e pelo pai zeloso que é, defende seus filhos e toda sua família de santo. E de fato, “sem o pai, sem o protetor, sem o mensageiro, em outras palavras, Sem Ogã, não tem Candomblé”.

Èpa Bàbá! Èpa Bàbá!

Awurè awurè

Bo kun súré àjálá

Òjise t’ ayó

Olóri nse éro èro

Que baba ajala o modelador de cabeças

Abençoe nosso ori com muita calma

Para que nos alcancemos à felicidade (4)

Notas:

1- https://umbandaead.blog.br/2017/10/19/saudacoes-a-exu-e-seus-significados/

2- http://oganstenda.comunidades.net/a-origem-do-ogan

3- Os atabaques são tocados pelo Alagbê (Ketu), Xicarangoma (Angola e

Congo) e Runtó (Jeje) que é responsável pelo Rum (o atabaque maior), e pelo ogans nos atabaques menores sob seu comando, é o Alagbê que começa o toque através do seu desempenho no Rum que o Orixá vai executar sua coreografia de caça, de guerra, sempre acompanhando o floreio do Rum. O Rum é o que comanda o Rumpi e o Lé.

http://oganstenda.comunidades.net/o-que-sao-ogans

4- Cântico apresentado pela Ialorixá Marilene Marques

Bibliografia e Fontes de consulta:

http://www.labpac.faed.udesc.br/universo%20e%20sua%20existencia_robe

rto%20lins.pdf

Entenda as Nações do Candomblé e suas diferenças

https://meuorixa.wordpress.com/2012/05/06/cargos-do-candomble/

http://oganstenda.comunidades.net/o-que-sao-ogans

http://olhosdeoxala.blogspot.com/2012/03/funcao-do-ogan-no-candomble.html

http://oganstenda.comunidades.net/o-que-sao-ogans

Saudações a Exu e seus significados

http://www.scielo.br/pdf/ea/v8n21/03.pdf

http://www.scielo.br/pdf/alm/n12/2236-4633-alm-12-00006.pdf

Paulo Gilroy, O Atlântico Negro —Modernidade e Dupla Consciência. Rio de Janeiro, Editora 34/UCAM —Centro de Estudos Afro-Asiáticos, 2002, 427p.

Pierre Verger, Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o Golfo do Benim e a Bahia de Todos os Santos, dos séculos XVII a XIX. Salvador, Editora Corrupio, 1987

BASTIDE, Roger, O Candomblé na Bahia, Companhia das Letras, 2001

BENISTE, José ,Òrun-Àyé. O Encontro de dois mundos: o sistema de relacionamento nagô-yorubá entre o céu e a terra. 4 ed. Rio de

Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 2004.

ROCHA, Agenor Miranda. As Nações Kêto: origens, ritos e crenças: os Candomblés antigos do Rio de Janeiro.

SANTOS, Juana Elbein dos. Os Nàgô e a morte: Pàde, Àsèsè e o culto Égun na Bahia. 11 ed. Petrópolis: Vozes, 2002.

LIMA, Alexandre Mantovani de. Memórias e identidades de um terreiro de

Candomblé: Ilé Ògún Anaeji Ìgbele Ni Oman – Àse Pantanal: a Nação Efon em Duque de Caxias RJ. 2015. 232 f. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2015.

Agradecimentos especiais à Ialorixá Marilene Marques pelo carinho e ajuda na construção dessa narrativa, muito axé em sua caminhada. Ao irmão, Ogã Bruno Carvalho por compartilhar suas vivências e ao amigo Dr. Luciano Nascimento, pelo encaminhamento e aconselhamentos no desenrolar da história.