GRES Caprichosos de Pilares – Sinopse do enredo para o Carnaval 2024

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A Escola de Samba Caprichosos de Pilares divulgou a sinopse de seu enredo para o Carnaval 2024 – “A cobra vai fumar!”, de autoria dos carnavalescos Raphael Torres e Alexandre Rangel.
A agremiação desfila pela Série Prata da Superliga.

Confira a sinopse:

A cobra vai fumar é uma expressão popular brasileira que dá a ideia que alguém vai “botar pra quebrar” e é nesse sentido irônico, irreverente e alegre que a Caprichosos de Pilares vai botar para quebrar no carnaval de 2024, rumo à vitória.

“A cobra é uma criatura perspicaz e misteriosa que, desde a antiguidade, por suas características e representação, é utilizada como símbolo em religiões e culturas, tanto no Oriente, como no Ocidente, possuindo vários significados e simbologias”.

E é nesse fio condutor que vamos explorar em nosso enredo a cobra, que é uma denominação genérica utilizada na língua portuguesa como sinônimo para serpente.

Em Gênesis, um dos episódios mais conhecidos na criação da humanidade é sobre o momento em que Adão e Eva mordem o fruto proibido e renunciam ao paraíso influenciada pela astuta e ardilosa serpente que Deus havia criado. A partir desse momento, a serpente passou a significar a tentação e o pecado no Cristianismo.

Na mitologia iorubá, esse réptil é o símbolo do orixá do movimento contínuo e de todos os ciclos. Participou da criação do mundo, enrolando-se ao seu redor para reunir a matéria e dar forma ao planeta Terra. Como uma cobra arco-íris, Oxumarê foi responsável por ligar o Orún (céu) ao Aiye (terra) e o equilíbrio entre os orixás e os homens.

No antigo Egito eram usados amuletos e adornos de cabeça (Uraeus) em forma de cobra nas coroas dos deuses e em faraós, simbolizando soberania, realeza, divindade e autoridade divina. O Uraeus estava relacionado com a antiga deusa egípcia Wadjet, matrona do baixo Egito.

Já o deus grego Asclépio, considerado um mortal que representa a medicina, demonstrou grande habilidade na arte da cura na antiga Grécia. O símbolo da medicina tem como ícones a cobra enrolada em torno do seu cajado de madeira que, juntos, uniram a sabedoria e a simbologia do ciclo da vida, representando um elo entre a doença e a cura, o bem e o mal, a morte e o renascimento.

Nas culturas da Mesoamericana, em especial a cultura dos povos astecas, acreditavam que viviam sob o sol da serpente emplumada (Quetzálcoatl), o deus mítico do vento, do céu e do sol, sendo considerado o deus principal por ter criado o quinto sol, onde a humanidade vive até hoje.

Na Idade Média, os alquimistas acreditavam encontrar o “elixir da vida e da imortalidade” utilizando o símbolo místico e esotérico ourorboros que é representado por uma serpente que engole a própria cauda e é associado ao ciclo da eternidade.

Da mesma maneira, no Xamanismo, as práticas ancestrais usavam a serpente, animal que troca sua pele e é considerado o devorador de doenças, simbolizando a cura, a espiritualidade, a vitalidade e a magia.

A era das grandes navegações do século XV e XVI ficou marcada por uma série de desafios, onde o imaginário lusitano era permeado por medo de enormes serpentes marinhas e histórias que deixavam os navegantes portugueses apavorados em se aventurarem para navegar em além-mar.

Na cultura chinesa, a serpente é o sexto signo do horóscopo chinês, pertence ao elemento fogo e é regido pela energia Yin. O Yin é a energia da noite, do feminino, da polaridade negativa, representada pela cor preta e está do lado esquerdo da esfera do Yin e Yang. Os dois polos são igualmente importantes para manter o equilíbrio do universo.

A relação da cultura hindu e a serpente é bastante excêntrica para o olhar ocidental. Os encantadores de cobras são um dos principais símbolos da Índia, considerados seguidores de Shiva, o deus hindu, representado por uma cobra-real em seu pescoço, que tem um papel fundamental tanto na mitologia quanto na religiosidade.

A famosa expressão popular “a cobra vai fumar” se tornou lema da Força Expedicionária Brasileira durante a segunda guerra mundial, onde diziam que era mais fácil a cobra fumar cachimbo do que o Brasil entrar na guerra. Algum tempo depois, o Brasil foi à guerra e a cobra fumou!

No folclore e no imaginário dos povos ribeirinhos, a cobra grande vivia no fundo dos rios, lagos e igarapés da Amazônia à espreita da sua caça. Na lenda esse ser ameaçador é visto como um animal sagrado pelos índios amazonenses, sendo capaz de assumir várias formas, incluindo a de um belo homem ou mulher, para atrair as pessoas para dentro do rio e devorá-los.

Em São Luís do Maranhão, conta-se que uma imensa serpente encantada vivia adormecida nas profundezas, dentro das galerias subterrâneas que ocupam todo centro histórico de São Luís. Segundo a lenda, quando a cabeça da serpente alcançar o final de sua cauda ela despertará num sobressalto e arrastará a cidade para as profundezas do mar.

No carnaval carioca, os símbolos das escolas de samba sempre tiveram um significado especial na maior festa popular do Brasil. As duas serpentes bordadas em seu pavilhão, símbolo máximo da Caprichosos de Pilares, carregam em sua história a força da sua ancestralidade, mantendo viva a memória, a tradição da irreverência e bom humor de grandes carnavais que foram apresentados ao longo de sua existência.

E por falar em irreverência e bom humor, vamos colocar nesse carnaval a cobra para fumar rumo ao seu retorno ao Sambódromo da Marquês de Sapucaí! O nosso pavilhão existe e resiste, a maior prova disso é que nós escolhemos ser Caprichosos de Pilares!

Pesquisa, desenvolvimento e texto: Raphael Torres e Alexandre Rangel
Revisão de texto: Jorge Luiz

Referências bibliográficas:
– AMADO, Janaina et. Al. Medo e vitórias nos mares. São Paulo: Ed. Atual, 2019.
– BOAS, Marion Villas. Os orixás sob o céu do Brasil. São Paulo: Ed. Biruta, 2013.
– CARQUEIJO, Joaquim. Horóscopo chinês. São Paulo: Ed. EdCase, 2022.
– FELIPE, Carlos. O grande livro do folclore. Porto Alegre: Ed. Leitura, 2004.
– FROTA, Wagner. Xamanismo, o caminho do coração. São Paulo: Ed. Alfabeto, 2021.
– JUNQUEIRA, Ivan. O Encantadores de serpente. Rio de Janeira: Ed. Alhambra, 1987.
– LEVEQUE, Pierre. As primeiras civilizações. Coimbra: Ed. Edições 70, 2009.
– PAGELS, ELAINE. Adão, Eva e a serpente. Rio de Janeiro: Ed. Rocco, 1992.
– SOUZA, Nilza M. Segunda guerra mundial: A cobra vai fumar. São Paulo: Ed. Cartola, 2020.
– WEST. John Anthony. A serpente cósmica. São Paulo: Ed. Pensamento, 2009.