A Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis entregou, nesta
segunda-feira (10/06) a sinopse do enredo que apresentará na Marquês
de Sapucaí, pelo Grupo Especial, no carnaval 2020: “Se essa rua fosse
minha…”, que será desenvolvido pelos carnavalescos Alexandre
Louzada e Cid Carvalho.
Confira a sinopse.
GRES BEIJA-FLOR DE NILÓPOLIS – CARNAVAL 2020
“SE ESSA RUA FOSSE MINHA…”
A nossa história é uma estrada percorrida e, certamente, imensurável,
pela qual ainda temos tanto a caminhar…
Desde que o homem se pôs de pé, ereto sobre a terra, ele iniciou a sua
extensa jornada migratória em eras imemoriais, quando os glaciares
serviam de ponte, unindo os continentes. Sua natureza nômade o fez se
lançar ao desconhecido, numa peregrinação, inventar trilhas na mira do
horizonte e se espalhar, seguindo adiante, pelo mundo afora.
Desde as tribos andarilhas até o apogeu da civilização, com a invenção
da roda, assim viajou a humanidade. Encurtou distâncias, traçou rotas,
desbravou a terra, delimitou fronteiras ao vencer obstáculos.
Arriscou-se, de forma aventureira, nas encruzilhadas do tempo e
enfrentou os desvios do destino, estando à sorte na vastidão de
incertezas, de abismos e labirintos, de caminhos e descaminhos, a
percorrer as vias da vida do por vir, nas idas e vindas dessa
história, estrada sem fim.
A Beija-Flor de Nilópolis, no decorrer de sua trajetória, ao enveredar
por inúmeras viagens a lugares mágicos, em voos lúdicos nos sonhos de
carnaval, escreveu o seu caminho, a sua linda história de esplendor e
conquistas, de alegrias e lágrimas, deixando, assim, um legado de
glórias.
Hoje, a “Deusa da Passarela” vem passear pela jornada épica da
humanidade, ela que todo ano toma para si uma Rua, a Marquês de
Sapucaí, como se fosse sua, para encantar e contar uma história,
traçando nela o seu plano de voo sambista para mais uma vez nos
deslumbrar, “ao ecoar o som de um tambor” e fazer derramar, outra vez,
“um festival de prata em plena pista”.
SINOPSE DO ENREDO
“SE ESSA RUA FOSSE MINHA…”.
Sob o véu da noite que nos envolve agora, céu e chão num turbilhão de
estrelas, firma meu samba nessa encruzilhada, o seu ponto de partida,
a esquina onde dobram sonhos de tantas vidas, onde os destinos são
traçados na mágica Rua, na Rua do Marquês, que também é minha, é sua.
Na hora em que a avenida se ilumina, a Lua, despida, torna-se vazia e
então, para brincar o carnaval, põe-se a vestir-se de fantasia.
Laroyê! Peço licença às entidades, bênçãos e passagem aos que nos
regem do além e peço que nos iluminem com seu rastro de luz, nos guiem
e nos façam brilhar também.
Hoje, meu “Pássaro Encantado” vem beijar o chão que pisa, ele, que é
tão bem acostumado, vem contar mais histórias de rumos, rotas,
trajetórias, caminhos e estradas por onde a humanidade passou.
Pelas vias riscadas na terra, minha gente por elas atravessou. Ainda
sem fronteiras, conheceu reinos de Âmbar, de Prata, de Ouro e de Seda,
seguindo os passos dos aventureiros viajantes com que o vasto mundo
interligou.
No balanço das ondas, bravos navegantes nos caminhos do mar aberto, ao
sabor do vento, com o saber dos astros que apontam para o oriente,
partiram, pois navegar foi preciso rumo ao Cabo das Tormentas, destino
impreciso que, por sua vez, acalma o oceano e conduz os viajantes ao
Novo Mundo. Mundo por tantas lendas afamado, com tantos sonhos
acalentados, de impérios longínquos, de tesouros escondidos, de
estradas esculpidas no topo do mundo, de um mágico reino chamado
Eldorado.
Eis que nova terra então se revela. No facão que fere a mata
verdejante e impunha a bandeira donatária, ao desbravar a trilha dos
índios, se faz Estrada Real, da Vila Rica, em chagas abertas no chão
de onde brotaram ouro e diamantes, para a Corte de Portugal. E a nobre
cidade sagrada, à São Sebastião, cobriu o barro de seus becos e vielas
de pedras assentadas, pisadas por pés de moleques.
Ruas que assim também se fizeram rumos de devoção, estradas de passos
peregrinos, “Paços” de milagres, andanças de louvação, vias dolorosas
de flagelos e martírios, caminhos de pedidos e promessas, de graças e
de perdão, no andar com fé em procissões e romarias, que seguem
andores e altares, de Josés e Marias, no fervor das tochas e velas que
acendem almas e corações.
Ruas sem fim que contam histórias. Ruas que conhecemos sem sequer
passar por elas. Ruas do mundo afora que são cartões-postais, ou que
simplesmente são lembradas por quem nelas moram. Ruas de desejos, de
saudades, de lembranças de seus recantos e encantos. Ruas de todo
canto, sejam elas as mais belas ou aquelas que nos atraem,
simplesmente pelo seu vem e vai. Sejam elas a avenida elegante de
Paris ou de Nova York, sei lá, talvez uma mão inversa de Londres ou
“El Caminito”, em Buenos Aires, para “un tango bailar”; ou, melhor
ainda, aquelas onde a brisa sopra de um “eterno cantor” em suas ondas
ao quebrar, que espalham beleza e calor, nas calçadas famosas onde se
declara amor à “Princesinha do Mar”.
Mas, afinal, são estradas fantásticas, lendárias, de se ouvir falar,
ou, melhor, são elas talvez frutos que só a imaginação alcança, tão
impossíveis de se chegar. Para que isso aconteça, basta querer e
sonhar. E por que não deixar se levar nessa viagem que a mente pode
criar, seja pela Via Láctea passear, ou a Torre de Babel alçar, e a
morada de Deus visitar. Ou, quem sabe, desafiar a mitologia e, no
Labirinto do Minotauro, a tão desejada saída encontrar; ou, talvez,
num passe de mágica, na estrada de tijolos de ouro, no final do
arco-íris, poder chegar.
Enfim, são tantos caminhos a percorrer, tantas estradas que se mostram
naturais, virtuais ou do destino, estradas da vida de cada um de nós.
Mas eis que chega ao fim essa viagem. É aqui o caminho do sonhar, na
Rua das Ruas, a razão desse meu caminhar, onde mora nossa missão de
vida, onde o samba escolheu habitar e de onde o meu povo chega de seu
próprio caminho vindo do seu lugar. É a Rua de todos no seu momento de
por aqui passar. Mas, agora, é a minha hora, a minha vez de lhes
mostrar que essa Rua, nesse instante, é só minha e, como o sonho me
permite, essa Rua eu vou ladrilhar com pedrinhas de brilhantes para o
meu Beija-Flor voar.
ALEXANDRE LOUZADA E CID CARVALHO
Carnavalescos