GRES Beija-Flor de Nilópolis define enredo para o Carnaval 2023

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Em evento realizado em sua quadra, no último sábado (02/07), a Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis anunciou o  enredo para o Carnaval 2023: “Brava Gente! O grito dos excluídos no Bicentenário da Independência”, assinado pelos carnavalescos Alexandre Louzada e André Rodrigues, com pesquisa de Mauro Cordeiro.

Confira.

“Brava Gente! O grito dos excluídos no Bicentenário da Independência”

 


CONVOCAÇÃO 

Por uma questão de desordem no que se diz respeito às memórias que este país constrói: VAMOS NOS UNIR, BRAVA GENTE! Esta é uma convocação aos sobreviventes deste país que não nos reconhece. Um país que ignora nossas existências.Um país que comemora 200 anos da marginalização da sua própria gente. Seremos a voz do desejo de uma nação inteira: independência e vida!

O Estado brasileiro foi erguido sobre um conjunto de mitos e símbolos que justificam as violências que ainda hoje são implementadas contra nós. Não é por acaso o apagamento do verdadeiro protagonista da história nacional: o povo brasileiro. Esta é a brava gente que está ausente dos atos cívicos que celebram nossos mitos fundadores. Excluídos. Se as pautas fundamentais para uma nação soberana, independente e justa são trabalho digno, moradia, alimentação, participação popular, igualdade de direitos e liberdade plena, a grande pergunta é: este é o Brasil em que vivemos?

Propomos, então, um novo marco para a Independência Nacional: O dia em que o povo venceu, o 2 de Julho. O triunfo popular de 1823 é muito mais sobre nós e sobre nossas disputas. O Dia da Independência que queremos é comemorado ao som dos batuques de caboclo, cantando que até o sol é brasileiro. Precisamos festejar os marcos populares em festas que tenham cheiro, cor e sabor de brasilidade, reconhecendo o protagonismo feminino e afro-ameríndio. Somos aqueles e aquelas que, excluídos dos espaços de poder, ousam ter esperança no amanhã. O Brasil precisa reconhecer os muitos Brasis e suas verdadeiras batalhas.

É a partir desta data que provocamos uma nova comemoração da independência do Brasil. A independência do povo para o povo. Faremos, então, um grande ato cívico em louvação aos 200 anos de luta dos brasileiros, herança dos heróis e heroínas que forjam dia a dia, através de suas batalhas, uma nação verdadeiramente livre e soberana. Reivindicamos e nos orgulhamos das lutas históricas e sociais daqueles que nos precederam nesta incansável batalha pela cidadania.

Juntem-se e vistam suas fantasias, pois será um grande carnaval quando em praça pública declararmos nossa própria independência. NÓS, O POVO! Juntando tudo e todos. O novo Brasil ditará as ordens a partir da folia. Alegria e manifestação! Nossa bandeira será um grande mosaico do que somos de verdade, feita a partir do retalho do que cada um tem a oferecer daquilo que lhe representa.

A cultura é o nosso poder, e, é através dela que lutamos pela transformação social, colocando o povo no pedestal que lhe é de direito. Por isso fazemos carnaval, é a nossa missão, sempre construindo o país que acreditamos, e lutando para que ele seja um dia, realidade. O grito será por justiça e liberdade, igualdade sem neurose e sem caô.

Nilópolis, 02/07/2023
Dia dos 199 anos da Independência do nosso Brasil

 

JUSTIFICATIVA

O G. R. E. S. Beija-Flor de Nilópolis irá apresentar no carnaval de 2023 o enredo “BRAVA GENTE! O GRITO DOS EXCLUÍDOS NO BICENTENÁRIO DA INDEPENDÊNCIA”.

O bicentenário da Independência é um momento propício para um debate profundo acerca dos rumos e do próprio sentido do país. O carnaval carioca, alegria e manifestação, não poderia ficar de fora desta ampla discussão. A festa consolidou-se como um espaço privilegiado para reflexão e a disputa de questões de importância fundamental em um espetáculo artístico de inegável dimensão política e caráter pedagógico.

Através do seu desfile, um ato cívico, nós propomos que a independência é um processo, defendemos um novo marco para a emancipação política brasileira, destacando o protagonismo popular enquanto denunciamos o caráter autoritário, tutelar, excludente e desigual do Estado, desde sua gênese até a atualidade.

Ao invés de celebrar ritualisticamente o mito fundador da pátria – o grito do Ipiranga no 7 de setembro, argumentamos em favor de um novo marco, capaz de oferecer um sentido que consideramos mais próximo da verdade histórica de uma independência que foi conquistada; não proclamada. Este marco é o 2 de julho de 1823, data da vitória das tropas brasileiras na consagração instalada na Bahia.

Ao mesmo tempo, iremos rememorar esses duzentos anos a partir da perspectiva das camadas populares apontando as mazelas, contradições e limites da construção nacional. Heroico é o povo que constrói a sua própria autonomia através da luta. Esta é a nossa história: nada nos foi dado; cada um dos nossos avanços foi obtido pelos nossos próprios esforços.

Se o Estado brasileiro se ergueu como um instrumento para conservação de uma ordem patriarcal, escravocrata e latifundiária, o povo brasileiro, mesmo alijado dos espaços institucionais, insiste em disputar no Brasil sem temer nem a luta, nem a morte.Este enredo é um grito que ecoa do Brasil profundo e se faz ouvir aos quatro cantos. Das aldeias, guetos, terreiros e favelas um brado em uníssono se faz clamor: independência e vida!

Este é o nosso grito.