Carnaval 2019 – GRES União do Parque Curicica – Sinopse do enredo

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A Escola de Samba  União do Parque Curicica divulgou nesta terça-feira  (17/07) a sinopse do enredo para o Carnaval 2019: “Eu vi Deus, Ela é  negra!”, que será desenvolvido pelo carnavalesco Wagner Gonçalves.

A União do Parque Curicica será a 5ª Escola a desfilar pela Série B,  da LIESB, na terça-feira de carnaval(05/03/2019), na Intendente  Magalhães.

Confira a sinopse:

GRES UNIÃO DO PARQUE CURICICA – CARNAVAL 2019

Enredo: “Eu vi Deus, Ela é negra!”
Carnavalesco: Wagner Gonçalves

Mulher negra,
Por que se esconde de mim?
Será que busco em ti um retrato
Como aqueles preto e branco
Hoje, todos coloridos.
Mulher negra
O que há em ti?
Que foge de meu olhar reducionista
Mulher e outrora negra,
Outrora lésbica, outrora albina
Mulher negra
Pensei em ti
Mas ao abrir os meus olhos
Aquele quadro que pintei
Já não existia
Mulher negra
Se espalham, se multiplicam
Dancem rap ou talvez nem dancem
E este substantivo singular
A aprisionar milhões de outras mulheres
Poderiam estar nos terreiros
Em quilombos
Nas universidades
Mas indago
Me pergunto, onde estão
As outras?
Aquelas vozes
que não foram habilitadas
Mulheres negras
São tantas, tão múltiplas
Que me inquietam
Sabe, as vezes me fazem calar
Tenho medo de falar bobagens
Quando me calo
É para que as minhas palavras
Não as sufoquem ainda mais!

Cristiane Mare.

SINOPSE

EU VI DEUS, ELA É NEGRA!

Vejo Asase Yaa, Samba Kalunga e Oyá a inspirar o protagonismo de  mulheres da cor de ébano, a exemplo das guerreiras que lutaram contra  a escravidão. A violência não foi somente física, mas, também,  espiritual. Não bastava obter a força de trabalho em prol do projeto  colonizador. A estratégia consistia em soterrar as memórias trazidas  da mãe África, produzindo ESQUECIMENTO. A resistência se dava mesmo  através de uma aparente sujeição, como na incorporação da  religiosidade católica e a formação de irmandades de devoção mariana,  nas quais as mulheres negras desempenhavam papel fundamental. As  irmandades eram lugares de acolhimento e proteção aos irmãos,  escravizados ou libertos. Solidariedade própria às sociedades  africanas! Era como se, à sombra de um imponente Baobá, elas pudessem  abrigar e cuidar de seus filhos, nutrindoos com a seiva da vida, o  conhecimento ancestral. Palavra e ação em benefício das comunidades.  “Egbé Gèlèdé”!

EU VI DEUS, ELA É NEGRA!

Sinto a dor dilacerante das minhas ancestrais, atadas a grilhões  invisíveis, alijadas de exercer o direito à educação. Uma luta que é  de gênero, mas, também, é de cor. A cor preta nunca ocupou espaço  merecido na escala cromática das carteiras escolares no Brasil.  Estudar, nessas condições, significou e continua a significar um ato  de resistência. Nossas heroínas intelectuais desabrocham mesmo em  terreno hostil! Várias são as mulheres negras representantes deste  importante segmento, que abarca escritoras, educadoras e pesquisadoras  que contribuem para o desenvolvimento do pensamento brasileiro. A  palavra, aqui, é o canhão capaz de remover as barreiras erigidas pelo  etnocentrismo, abrindo espaço para o avanço de uma legião de mulheres  negras, ávidas em aprender para ensinar e, assim, transformar.

EU VI DEUS, ELA É NEGRA!

Ouço, por fim, vozes que falam e encantam, extravasando uma beleza  singular, que transcende o físico, propagando-se por meio de ações  engajadas dentro dos movimentos políticos, sociais e culturais.  Inspiradas e inspiradoras, as Oxuns seguem ladrilhando o caminho para  as novas gerações, dando-lhes o sentimento de pertencimento; afinal,  representatividade importa, sim! O labor árduo e contínuo contra o  preconceito faz vítimas, que morrem, mas vivem em cada uma que fica.  Assim, progressivamente, os espaços vão sendo ocupados e  ressignificados. Feministas, orgulhosas de suas origens, empoderam-se  para empoderar, alimentando um círculo virtuoso que, almejamos, não  tenha fim. Negras e belas mulheres, PRESENTES, sempre!

Ideia original: Roberta Rosa;
Pesquisa e texto: Leonam Lauro Nunes da Silva;
Carnavalesco: Wagner Gonçalves.