Artista indígena Xadalu investiga arquivos do IHGB e cria obras decoloniais 

0
195

O artista indígena Xadalu Tupã Jekupé aceitou o desafio do Sesc RJ no mês de junho e revisitou os arquivos do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro (IHGB), no Rio, em busca de inspiração para seus mais novos trabalhos: obras decolonais que farão parte de “Memórias Habitadas”, exposição que acontecerá concomitantemente em Nova Friburgo, Três Rios e Teresópolis durante o Festival Sesc de Inverno, com abertura marcada para o dia 12 de julho. 

Criada em 1838 tendo como grande incentivador o imperador Dom Pedro II, o IHGB guarda uma vasta coleção de documentos, obras e objetos que remontam aos períodos colonial e imperial. A ideia do Sesc RJ, de fazer o artista se debruçar sobre esses registros históricos, foi ressignificá-los sob a ótica indígena a partir das artes visuais, na esteira do mote do Festival de Inverno deste ano.

Em sua 22ª edição, o maior evento cultural multilinguagem do país tem como tema o acróstico “P-L-U-R-A-L”, que busca resumir em seis outras palavras a diversidade cultural do país: P, de povos, L, de lugares, U, de união, R, de raízes, A, de artes e L, de linguagens. 

“Através da pesquisa, a gente revisou esses documentos do período colonial fazendo uma releitura por meio de obras que vão circular por três cidades. Além de descentralizar, vamos decolonizar esse pensamento colonial que ainda habita nas instituições – e aos poucos as instituições vão se acostumando a ter esse novo olhar. Com esses espaços de exposição a gente cria novas narrativas e diálogos com o espectador”, disse o gaúcho da cidade de Alegrete, território da antiga missão jesuítica de Yapeyu, um dos alvos de sua pesquisa. O trabalho do artista estará exposto no núcleo da exposição, localizado na galeria de Artes Visuais do Sesc Nova Friburgo.

21 artistas transgridem narrativas hegemônicas

Com curadoria de Barbara Copque, Letícia Puri e Roberta Mathias, e consultoria de Ana Paula Alves Ribeiro, a exposição coletiva “Memórias Habitadas” reúne um grupo de 21 artistas/coletivo que se propõem a pensar memórias e arquivos para além de leituras consolidadas. Além de Xadalu e sua imersão no IHGB, outros cinco foram comissionados para criarem trabalhos especificamente para a mostra: Alice Yura, Ge Vianna, Mariana Maia, Museu Imaginário de História Natural e Pérola Santos. Os demais já trabalham com material de arquivamento: Alessandro Fracta, Alberto Pereira, Eliana Alves Cruz, Domeio, Joelington Rios, Asmahen Jaloul, Marina Feldhues, Mayara Ferrão, Mbé, Roberta Holiday, Rodrigo Ribeiro-Andrade, R0na, Silvana Marcelina, Tayná Uràz e Yoko Nishio

 

Inquietações sobre a história consolidada

O que pode um arquivo?  Como seus acervos são narrados e tutelados? Onde fica a fronteira do que aconteceu e do que foi inventado? Essas são algumas inquietações que a exposição pretende evocar, explicam os curadores. 

Para o vice-presidente do IHGB, Paulo Knauss, que recebeu Xadalu e colocou o arquivo à sua disposição ao longo de 15 dias, a iniciativa do Sesc RJ contribui para a missão do instituto de preservar a memória nacional a partir dos diferentes pontos de vista. 

“Nós somos uma casa dedicada a pensar o Brasil a partir da perspectiva histórica. Para nós essa é uma oportunidade para colocarmos em discussão não só a interpretação da história do Brasil, mas também as representações do passado nacional. O IHGB é uma instituição antiga, mas que está sempre comprometida em atualizar sua missão. A história – a gente sabe – é feita de fatos, mas é vivida, sobretudo, das representações e das narrativas e interpretações sobre o passado”, diz o presidente do Instituto.

 

Tornando os coadjuvantes em protagonistas

O presidente do Sistema Fecomércio RJ (Sesc e Senac), Antonio Florencio de Queiroz Junior, menciona a missão do Sesc RJ para justificar a iniciativa: 

“Em toda e qualquer atividade do Sesc RJ está intrínseca a ideia de inclusão e democracia. Trabalhamos diuturnamente para dar dignidade e qualidade de vida aos trabalhadores do comércio e também aos mais vulneráveis da nossa sociedade. O tema do Festival de Inverno deste ano traz essa ideia muito claramente, com um adendo: as narrativas hegemônicas precisam ser revertidas para que aqueles que historicamente tiveram papeis de coadjuvantes possam de uma vez por todas se tornarem protagonistas”, analisa o dirigente da instituição.

 

SERVIÇO

Exposição “Memórias Habitadas”

Galerias das unidades Sesc Nova Friburgo, Teresópolis e Três Rios

De 12 de julho a 1º de outubro de 2024

Artistas: Alice Yura, Ge Vianna, Mariana Maia, Museu Imaginário de História Natural, Pérola Santos, Alessandro Fracta, Alberto Pereira, Eliana Alves Cruz, Domeio, Joelington Rios, Asmahen Jaloul, Marina Feldhues, Mayara Ferrão, Mbé, Roberta Holiday, Rodrigo Ribeiro-Andrade, R0na, Silvana Marcelina, Tayná Uràz, Xadalu Tupã Jekupé e Yoko Nishio

Curadoria: Barbara Copque, Letícia Puri e Roberta Filgueiras Mathias

Consultoria: Ana Paula Alves Ribeiro

Entrada franca

Classificação livre

 

LOCAIS:

Sesc Nova Friburgo: Av. Pres. Costa e Silva, 231

Sesc Teresópolis: Av. Delfim Moreira, 749

Sesc Três Rios: R. Nelson Viana, 327