Odilon Wagner é Sigmund Freud em “A Última Sessão de Freud”

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A trama do premiado autor americano Mark St. Germain apresenta um encontro fictício entre Sigmund Freud (Odilon Wagner) e o escritor, poeta e crítico literário C.S. Lewis (Marcello Airoldi), dois intelectuais que influenciaram o pensamento científico filosófico da sociedade do século 20. Durante esse diálogo, Freud, crítico implacável da crença religiosa, e C.S. Lewis, renomado professor de Oxford, crítico literário, ex-ateu e influente defensor da fé baseada na razão (autor de clássicos como O Regresso do Peregrino e a trilogia infanto-juvenil As Crônicas de Nárnia), debatem de forma apaixonada, o dilema entre ateísmo e crença em Deus. Freud quer entender por que um ex-ateu, um brilhante intelectual como C.S. Lewis, pode, segundo suas palavras, “abandonar a verdade por uma mentira insidiosa”, tornando-se um cristão convicto. 

No gabinete de Freud, na Londres de 1939, o pai da psicanálise, e o escritor C.S. Lewis conversam sobre a existência de Deus, mas o embate verbal se expande por assuntos como o sentido da vida, a natureza humana, sexualidade, religião e relações humanas, nenhum assunto é tabu ou complexo demais para esses intelectuais, resultando em um espetáculo que se conecta profundamente com o espectador através do humor, da sagacidade e do resgate da escuta como ponto de partida para uma boa conversa. O sarcasmo e ironia rondam toda essa discussão. As ideias contundentes ali propostas nos confundem, por mais ateus ou crentes que sejamos. 

“O interessante é que todos esses temas existenciais não são papo-cabeça. A peça não é feita para bolhas de intelectuais, filósofos, psicólogos ou religiosos; é feita para o público. Não é aula, não precisa conhecer a obra deles para curtir o espetáculo. É uma discussão que todo ser humano, uma vez ou outra na vida, já teve sobre esses temas”, destaca Odilon Wagner. 

O texto de Mark St. Germain é baseado no livro Deus em Questão, escrito pelo Dr. Armand M.Nicholi Jr., professor clínico de psiquiatria da Harvard Medical School, que aborda as diferenças filosóficas entre Freud e Lewis. Após a leitura, St. Germain imaginou que aquelas enormes diferenças poderiam dar um bom confronto dramático. 

“Eu sabia que, para a plateia aceitá-los, eles tinham que ser pessoas, não ícones. Injetar humor foi a maneira de fazer isso. A peça mostra um embate de ideias. Isso é uma armadilha, e eu não queria que o espetáculo se transformasse em um debate. Por isso, pelo bem da ação dramática, situei o encontro entre Freud e Lewis no dia em que a Inglaterra ingressou na Segunda Guerra Mundial. Então, são dois homens no limite, sabendo que Hitler poderia bombardear Londres a qualquer minuto”, declara Mark St. Germain. 

O diretor Elias Andreato optou por uma encenação que valorize a palavra, construindo as cenas de modo que o texto seja o protagonista e as ideias estejam à frente de qualquer linguagem. 

“O Teatro é uma forma de arte onde os atores apresentam uma determinada história que desperta na plateia sentimentos variados. É isso o que me interessa: despertar sentimentos e acreditar na força de se contar uma história. É muito prazeroso brincar de ser outro e viver a vida dessa pessoa em um cenário realista, com figurino de época, jogando com ficção e realidade. Isso é uma realização para qualquer artista de teatro. E é assim que defino essa experiência de me debruçar sobre a obra teatral de Mark St. Germain”, comenta Andreato. 

O cenário citado pelo diretor é assinado por Fábio Namatame, foi indicado ao Prêmio Shell Melhor Cenário e reproduz o consultório onde Freud desenvolvia sua psicanálise e seus estudos. Ele estava exilado na Inglaterra depois de ter fugido da perseguição nazista na Áustria, em plena segunda guerra mundial, no ano de 1939. 

Marcelo Airoldi, intérprete de C.S. Lewis, se refere a peça como um verdadeiro elogio ao diálogo: “Freud e Lewis são pessoas com ideias completamente diferentes, mas sendo inteligentes podem dialogar. Ideias diferentes são muito melhores do que ter uma ideia só.” 

Odilon Wagner complementa o colega de cena: “É uma discussão que não tem vencedores. A coisa mais bonita do espetáculo é que ninguém ganha de ninguém, o que é mais interessante é que as reflexões chegam para cada um sair com suas convicções, para alimentar as suas reflexões. E que é possível que duas pessoas que pensam absolutamente diferente sentem, conversem e se respeitem. 

Professor de Literatura e Teatro da UFMG, Paulo Bio Toledo segue o mesmo campo de reflexões dos atores: “É a discordância dialética entre ambos que instaura a vontade de construir e formular argumentos. É ela que provoca e que movimenta o pensamento. Na atualidade regida pela intolerância, a peça faz lembrar que um momento importante da construção de nós mesmos se dá apenas quando nos deparamos com algo radicalmente diferente de nós, com um outro.” 

Por sua atuação no espetáculo, Odilon Wagner foi indicado aos prêmios Shell, APCA e Bibi Ferreira, na categoria melhor ator. 

“Ter a oportunidade de representar um personagem tão intenso e profundo, que fez parte da nossa história recente, é um privilégio. Foram meses estudando sua vida e personalidade, para tentar trazer um recorte mais fiel possível do último ano de vida desse grande gênio do século 20”, conclui Odilon Wagner.

 

Ficha técnica 

Texto: Mark St. Germain

Tradução: Clarisse Abujamra

Direção: Elias Andreato

Assistente de Direção: Raphael Gama

Idealização: Ronaldo DIAFÉRIA

Elenco: Odilon Wagner e Marcello Airoldi

Cenário e figurino: Fábio Namatame

Assistente de Cenografia: Fernando Passetti

Desenho de Luz: Gabriel Paiva e André Prado

Iluminação: Nádia Hinz

Trilha Sonora: Raphael Gama

Designer de Som: André Omote

Coordenador Geral de Produção: Ronaldo Diaféria

Produtora Executiva: Katia Brito

Direção de Palco / Contra-regragem: Vinicius Henrique, Kauã Nascimento

Produtores Associados: Diaféria Produções e Itaporã Comunicação

Assessoria de Imprensa: Ney Motta

Arte Gráfica: Rodolfo Juliani

Fotografia: João Caldas

Mídias Sociais: Felipe Perillo

 

Sinopse

A trama mostra o encontro fictício entre o pai da psicanálise Sigmund Freud e o escritor C.S. Lewis em um embate verbal cheio de sarcasmo sobre o sentido da vida, a natureza humana e a fé. Com humor e sagacidade, o espetáculo promove o resgate da escuta como ponto de partida para uma boa conversa.

 

Serviço


A Última Sessão de Freud

Local: Teatro Adolpho Bloch – Rua do Russel, 804, Glória, Rio de Janeiro

Telefone: 21 3553-3557

Temporada: 27 de setembro a 20 de outubro de 2024

Dias e horários: Sextas às 20h, sábados às 17h e 20h e domingos às 17h

Valor do ingresso: R$ 120,00 (inteira), R$ 60,00 (meia) e ingressos promocionais a partir de R$ 21,00

Vendas online: www.freud.art.br

Formas de pagamentos aceitas na bilheteria: todas

Capacidade de público: 359 pessoas

Classificação indicativa: 14 anos

Duração: 90 minutos

O Teatro Adolpho Bloch possui acessibilidade plena.