Com direção e dramaturgia original de Luiz Felipe Reis e atuação de Renato Livera — indicado ao 35º Prêmio Shell na categoria Melhor Ator —, DESERTO estreia nova temporada no dia 5 de setembro, no Teatro Firjan SESI Centro. Novo espetáculo da Polifônica, DESERTO é a primeira encenação brasileira baseada em fragmentos de diferentes obras e das memórias do premiado escritor chileno Roberto Bolaño (1953-2003), considerado um dos grandes autores latino-americanos de todos os tempos.
Eleito pelo The New York Times como um dos maiores romancistas do século XXI, pelas obras “Os detetives selvagens” e “2666”, Bolaño tem sua obra revisitada e recriada em DESERTO, a partir de uma dramaturgia que propõe uma reflexão coletiva “acerca das condições de possibilidade para a existência da poesia e dos poetas no mundo contemporâneo, em meio à ordem neoliberal vigente e suas inúmeras formas de violência”, diz o diretor.
Em cena, Renato Livera se aproxima da figura do escritor, emprestando corpo e voz às suas palavras, extraídas de obras emblemáticas como “A universidade desconhecida”, “2666”, “O gaúcho insofrível”, “Entre parêntesis” e “Bolaño por si mesmo”. A partir destes diferentes textos e materiais — poemas, crônicas, conferências, entrevistas —, DESERTO compartilha com o público suas reflexões autobiográficas e artísticas — sua relação com a escrita e com a poesia, com a História política da América Latina, com a violência do machismo e do sistema capitalista —, em suma: suas mais recorrentes preocupações éticas e estéticas, políticas e poéticas. Propondo um jogo de atravessamentos entre arte e vida, DESERTO olha para Bolaño e para seu compromisso com o fazer literário a fim de questionar qual o lugar da poesia e dos poetas em meio à violência do mundo contemporâneo.
“DESERTO reverbera o grande ponto de interrogação, de questionamento, que se encontra ao longo da obra de Bolaño, que se indaga continuamente sobre a viabilidade da poesia, ou da criação artística, em meio à disseminação da violência, da opressão e da devastação que marcam nosso mundo atual”, diz Luiz Felipe Reis.
Resultado de uma extensa pesquisa na obra de Bolaño, DESERTO aborda, sobretudo, os últimos anos de vida do escritor. Diagnosticado com uma doença hepática crônica, em 1992, Bolaño passou sua última década de vida lidando com uma doença de certa forma silenciosa, enquanto se dedicava à conclusão de obras como “2666”, sua obra-prima final, e “O gaúcho insofrível”, sua última coleção de contos. Neste sentido, DESERTO acompanha um poeta diante da morte — enquanto aguarda um transplante de fígado —, porém afirmando, até o fim, a vida em contínua criação.
“Toda sua trajetória, e sobretudo seus últimos anos de vida representam, de certa forma, a batalha cotidiana dos artistas no mundo contemporâneo, uma luta contínua contra diferentes forças de restrição e de opressão, contra o processo de desertificação das subjetividades e de desvitalização do imaginário a que estamos sendo submetidos pelo mundo neoliberal e digital”, diz o diretor. “Sua obra, assim como nossa peça — ao menos é o que esperamos —, apresentam o que chamo de contra-cenas ao estado atual do mundo, ou seja, cenas que se levantam criticamente e propositivamente em relação ao estado atual do mundo, em ao estado desértico a que o mundo ruma, à disseminação irrestrita do horror e das forças de destruição que se alastram e englobam a Terra: violência neoliberal, necropolítica, ecocídio, feminicídios, fascismos e autoritarismos que vicejam por todos os lados, nas Américas e além”.
Ao passo que acompanha de perto a etapa final da vida do escritor, DESERTO também é atravessado por flashes de diferentes momentos da impressionante jornada de vida de Bolaño, que saiu do Chile para o México aos 15 anos, atravessou as Américas para retornar ao Chile nos anos 1970, mas após o golpe em Salvador Allende, em 1973, retorna ao México para, então, se fixar de vez na Espanha a partir de 1977. DESERTO é a recomposição de rastros dessa aventura, e recria em cena passagens importantes desta trajetória, marcada por seu espírito inquieto e contestador, inconformado com a opressão das normas, das injustiças e com a violência humana.
DESERTO, por fim, reflete a aventura de ser poeta em meio a um mundo globalmente colonizado e dominado pelo imperativo dos números e do lucro, da utilidade e da eficácia a serviço do capital; um sistema de mundo marcado pela exploração e pela devastação de tudo que é vivo. Por sua vez, em contraponto a esta pragmática e destrutiva lógica de mundo, Bolaño se afirma, através da sua vida e sua obra, como um poeta e um cidadão pactuado com Eros e com o Cosmos, ou em outras palavras: com as forças de criação.
“Sua obra e sua vida afirma uma ética, uma forma de existência: Bolaño enxerga a poesia, a aventura poética, como uma forma de vida, como uma forma de escapar e de se contrapor ao conjunto de normas e hábitos, muitas vezes opressores, impostos pelo regime totalitário do capitalismo em sua forma contemporânea, neoliberal, marcada pela intensificação do desamparo, dos conflitos, do sofrimento psíquico, da exaustão ambiental, em suma, pela desertificação de tudo que é vital e fundamental à vida”, diz o diretor. “DESERTO é, em boa medida, uma contra-cena que se levanta contra o atual processo de desertificação e de desvitalização dos nossos corpos e subjetividades, e que afirma a poesia como uma forma de vida: mais lúdica e criativa, e que potencializa, acima de tudo, a viabilidade da nossa existência”.
Atualmente, pode-se dizer que Roberto Bolaño já é reconhecido como um verdadeiro “clássico contemporâneo”, mas ainda hoje, no Brasil, sua obra é menos conhecida e lida do que se pode imaginar. Ao recriar em cena fragmentos da vida e da obra do autor, DESERTO pretende contribuir para a difusão da obra de Bolaño no país e atuar, também, como porta de entrada ao fascinante universo literário do autor de “Os detetives selvagens” e de “2666”, considerado por muitos o maior expoente das letras latinas desde o grande boom dos anos 1960-70 que apresentou ao mundo nomes como Gabriel García Márquez, Julio Cortázar, Carlos Fuentes e Mario Vargas Llosa.
Ficha técnica
Direção e dramaturgia original: Luiz Felipe Reis
Baseada em fragmentos da vida e obra de Roberto Bolaño
Atuação: Renato Livera
Direção assistente: Julia Lund
Interlocução dramatúrgica: José Roberto Jardim
Direção de movimento e preparação corporal: Lavínia Bizzotto
Direção musical e criação sonora: Pedro Sodré e Luiz Felipe Reis
Cenografia: André Sanches e Débora Cancio
Figurino: Miti
Criação de vídeo: Julio Parente
Iluminação: Alessandro Boschini
Assistente de vídeo e operação de vídeo e luz: Diego Ávila
Operação de Som: Gabriel Lessa
Assessoria de imprensa: Ney Motta
Design gráfico: Bruno Senise
Fotografia de estúdio: Renato Pagliacci
Fotos de divulgação: Renato Mangolin
Cinematografia: Chamon Audiovisual
Direção de produção: Sérgio Saboya e Silvio Batistela (Galharufa)
Produção executiva: Roberta Dias (Caroteno Produções)
Coordenação de Produção: Ártemis Amaranta
Administrativo-Financeiro: Letícia Napole, Alex Nunes, Alessa Fernandes
Idealização e coprodução: Polifônica
Proponente: JL. Produções Artísticas Ltda.
Sinopse
O espetáculo ilumina a jornada existencial e artística do poeta e escritor Roberto Bolaño a fim de refletir sobre o papel do artista e da criação poética em meio à violência do mundo contemporâneo.
Serviço:
Deserto
Local: Teatro Firjan SESI Centro – Avenida Graça Aranha nº 1, Centro do Rio de Janeiro
Informações: 21 2563-4163 ou 2563-4168
Temporada: 05 de setembro a 06 de outubro de 2024, quintas e sextas às 19h, sábados e domingos às 18h
Ingressos: R$ 40,00 (Inteira) | R$ 20,00 (Meia)
Lotação: 338 lugares, com assento para pessoa obesa, PCD e acompanhante de PCD.
Duração aproximada: 85 minutos
Classificação indicativa: 16 anos
MINIBIOS
Roberto Bolaño – Nascido em 28 de abril de 1953, em Santiago do Chile, Roberto Bolaño Ávalos era filho de um caminhoneiro e de uma professora. Radicado na Espanha a partir de 1977, Roberto Bolaño consolidou-se, na virada do século XXI, como o maior nome da literatura latino-americano, em escala mundial, desde Gabriel García Márquez. Depois do sucesso de crítica de “A literatura nazi na América” (1996), publicou diversas obras em poucos anos, tendo “Os detetives selvagens” e “Putas assassinas” entre seus títulos mais elogiados, premiados e conhecidos — Bolaño conquistou os prêmios Herralde (1998) e Rómulo Gallegos (1999) por “Os detetives…” Em 15 de julho de 2003, Roberto Bolaño morreu de insuficiência hepática, em Barcelona, aos 50 anos. Ele deixou contos e romances inéditos, entre os quais sua obra prima final, o monumental romance “2666”, vencedor do Salambó Prize (2004) e do National Book Critics Circle Award (2009).
Luiz Felipe Reis é diretor teatral, dramaturgo, criador audiovisual e cofundador da Polifônica – Núcleo de Pesquisa e Criação Artística (www.polifonicacia.com). Também é curador de artes cênicas (Festival Cena Brasil Internacional) e de cinema (Aquarius), jornalista e crítico de teatro e de música (Jornal do Brasil, 2007-2010; O Globo, 2010-2018), além de pesquisador nas áreas de Artes Performativas, Encenação Contemporânea e Questão Ambiental, com mestrado (PUC-RJ) em Literatura, Cultura e Contemporaneidade. Como diretor teatral, dramaturgo, criador audiovisual e pesquisador, investiga procedimentos de criação artística a partir das noções de Polifonia, Polifonia Cênica e de Contracenas ao Antropoceno. À frente da Polifônica, assinou texto, direção e concepção sonora e visual das peças “Estamos indo embora…” (2015; indicada ao prêmio Shell de Inovação), “Amor em dois atos” (2016; indicada ao prêmio Cesgranrio de melhor direção, e prêmio APTR de melhor atriz e ator), “Galáxias” (2018), além das obras de teatro audiovisual “Tudo que brilha no escuro” (2020), indicado ao prêmio APTR de melhor criação; e “VISTA” (2023), obra baseada no romance “Vista Chinesa”, de Tatiana Salem Levy, e vencedora do Prêmio Deus Ateu de Artes e Teatro 2023 (melhor espetáculo). Em 2024, assina a direção e a dramaturgia original de “DESERTO”, primeira criação teatral brasileira inspirada nas obras e memórias do escritor chileno Roberto Bolaño. Para 2025, planeja a estreia dos projetos “AWEI!”, baseada no livro “Banzeiro onkòtó”, de Eliane Brum; e “Eddy. Uma história de violência”, a partir da obra do escritor francês Édouard Louis. À frente do Núcleo de Pesquisa e de Criação Artística da Polifônica, ministra o curso CENA é MUNDO – Outros reais possíveis.
Renato Livera é ator brasileiro, dramaturgo e diretor. Natural de Goiânia. Artista profissional desde 1998, graduou-se em Artes Dramáticas em 2007 e trabalhou com importantes diretores de Teatro, Tv e cinema, transitando por diferentes linguagens. Em 2015 foi indicado a “Ator Revelação da TV” no prêmio “Troféu Imprensa”. No mesmo ano foi eleito melhor ator cômico pelo prêmio “Notícias da TV”, repetindo a conquista em 2016. Recebeu ainda a indicação de melhor ator coadjuvante no teatro através do prêmio “Ítalo Rossi”, em 2014. Atualmente está no elenco da nova novela da Globoplay “Guerreiros do Sol”, prevista para 2025, mas pode ser visto em séries premiadas e de sucesso mundial como: “DOM” (Prime Vídeo), “Um Contra Todos” (FOX Premium), “A Magia de Aruna (Disney Channel) e “Matches” (Warner Channel). Na Televisão trabalhou na TV Globo, nas novelas “Malhação”, “Paraíso”, “Tempos Modernos”, “Araguaia” e “Quanto mais vida melhor”. Na Rede Record atuou nas novelas “Máscaras”, “Pecado Mortal”, “Apocalipse” e “Os Dez Mandamentos”, onde deu vida ao personagem de grande sucesso “Simut”. Como diretor de cinema dirigiu o curta ficção “Acordes”, o curta documentário “Território” e o longa documentário “Vozes da Alvorada”. Atuou em longas metragens como “Divina” de Alvarina Souza e “O Tronco” de João Batista de Andrade, além de curtas metragens premiados, entre eles “Arroba” que ganhou o prêmio Júri popular do Festival Claro Curtas e “Guia Prático para escolher o sofá dos seus sonhos”. No Teatro, atualmente circula com o monólogo “DESERTO”, com direção de Luiz Felipe Reis, e também com o solo “Colônia”, indicado ao prêmio APCA e sucesso de crítica em festivais nacionais e internacionais, no Brasil, Portugal e Chile. Integrou o quadro de atores propositores do coletivo cênico Ateliê Usina, coordenado por Alexandre Mello e o Grupo Alice 118, coord. pela diretora Ana Kfouri. Em 2007 fundou a Cia. Físico de Teatro, assinando a direção do espetáculo Felizes para Sempre e idealizando o premiado espetáculo “Savana Glacial”. Ainda pela Cia. Físico de Teatro assinou a direção do espetáculo “FÃ-CLUBE” em 2012 e “Temporada de Verão” em 2014. Ainda como diretor teatral foi convidado a dirigir pequenas peças cômicas no projeto Clube da Cena nos anos 2009 e 2010, além de dirigir também os trabalhos das turmas onde atuava como diretor e professor pesquisador, no Centro de Estudo Artístico Experimental do Sesc Tijuca, de 2004 a 2008.
Polifônica – Desde 2015, a Polifônica se dedica a uma pesquisa estética e temática focada nos conceitos de Polifonia Cênica e de Contra-cenas ao Antropoceno. Em conjunto, estas noções buscam estimular a experimentação de diferentes formas de abordar e de responder artisticamente ao AntropoCapitaloceno, ou seja, aos distúrbios ecológicos, sociais e políticos gerados pela engrenagem ideológica antropocêntrica, colonialista, capitalista e neoliberal. Elaborada pela Polifônica, a partir de uma pesquisa sobre a obra teórica e prática de Heiner Goebbels, a noção de Polifonia Cênica busca estabelecer uma relação horizontal, descentralizada e colaborativa entre diferentes elementos, linguagens e formas de arte na composição do fazer teatral. (fonte: https://www.polifonicacia.com)