Quatro décadas depois dos primeiros casos de aids registrados no mundo, o seu diagnóstico ainda é recebido com estigmas. Entender as bases desse preconceito estrutural que, mesmo com tantos avanços, inviabiliza vidas para ressignificar, por meio do humor, a forma como se lida com a doença são os pontos de partida da comédia “Sentença de Vida”. Com o patrocínio da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, através da Secretaria Municipal de Cultura via Foca – Fomento à Cultura Carioca, o espetáculo estreia temporada itinerante e gratuita no dia 7 de abril, sexta-feira, às 20h, na lendária Turma OK, primeira casa noturna LGBTQIAP+ de que se tem registro na história do país, no Centro, e segue por mais quatro bairros ao longo do mês. A direção é do aclamado Gilberto Gawronski, que também divide o palco com as premiadas Clarisse Derzié Luz e a Drag Queen Suzy Brasil.
A montagem inédita acompanha a jornada da médica infectologista Marcia Rachid, símbolo no tratamento da aids/HIV no Brasil, tendo como base o seu livro homônimo, que descreve como foi viver, ao longo de mais de trinta anos, o impacto e os desdobramentos causados pela epidemia. A doutora é uma das fundadoras do Grupo Pela Vidda, um dos mais atuantes no país dedicado à valorização, integração e dignidade das pessoas que vivem com a doença.
– A ideia é explorar o poder de ressignificação que o teatro tem. Queremos quebrar esse paradigma incapacitante com arte a partir da capacidade da Marcia de comover com suas histórias, mas também mostrar que o momento hoje é outro. A peça contamina o espectador de esperanças e de forças para transpor seus obstáculos. Os episódios narrados são histórias carregadas de sonhos, muito além de um olhar sobre uma epidemia e uma época marcada por medo e preconceito. E todas têm em comum o olhar sensível e humano de uma mulher que nos faz, sobretudo, acreditar na vida – explica o diretor e ator.
Na elaboração desenvolvida por Gawronski, a encenação, mergulhada na estética de cultura Queer, se entrelaça a um roteiro dividido em quadros, que remete ao do teatro de revista. E os contos selecionados da obra de Marcia servem como fio condutor e ligação para a apresentação de textos curtos de dramaturgia de prevenção criados por Aderbal Freire-Filho (“Aquela Mina”), Emmanuel Nogueira (“O Diário de Nabucodonosor”), Flávio Marinho (“O Nosso Amor a Gente Inventa”) e Tim Rescala (“Os Acrobatas do Sexo”). Eles integram a publicação “AIDS E TEATRO”, organizado por Daniel Sousa e Marta Porto com prefácio de Dráuzio Varela.
– Estamos em uma outra perspectiva em comparação a montagens como “Philadelfia” e “Angels in America”. Aquilo foi um período e já houve uma mudança. Não uma mudança total, pois a aids ainda é vista por muitos como um doença de gente promíscua, o que talvez ainda dificulta maiores investimentos em pesquisa para a sua cura. Veja a Covid-19, por exemplo, e o tempo que levou para já termos uma vacina. Por outro lado, e ainda assim, várias pessoas alcançaram um lugar de vida. O diagnóstico positivo deu para elas uma dimensão de busca por qualidade de vida, prevenção e cuidado. Até por isso a escolha da data da estreia no período da Páscoa. Afinal, o que não é senão um símbolo de renascimento – analisa Gawronski.
Próximas apresentações
A programação vai passar pelas Arenas Cariocas Chacrinha, em Pedra de Guaratiba (dia 12, quarta-feira, às 20h), Fernando Torres, em Madureira (dia 14, sexta, às 19h), Jovelina Pérola Negra, na Pavuna (dia 19, quarta, às 19h), e Dicró, na Penha (dia 28, sexta, às 19h).
Cada apresentação terá, ao final, um debate com o público, os artistas e a Doutora Marcia Rachid. Além disso, será disponibilizado durante o evento um posto de testagem rápida, em parceria com o Grupo Pela Vidda, e material informativo sobre locais ou meios onde e como as pessoas podem fazer a testagem para diagnóstico do HIV.
Marcia Rachid
Marcia Rachid é médica formada em 1982 pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Mestre em Doenças Infecciosas e Parasitárias pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Membro do Comitê Técnico Assessor para Manejo da Infecção pelo HIV em Adultos do Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde. Coordenadora da Câmara Técnica de Aids do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (CREMERJ). Ela é cofundadora do Grupo Pela Vidda.
– Conheço o Gilberto Gawronski há muitos anos, porém nunca tivemos projetos juntos. Em 2020, fizemos um curso virtual e ele soube do meu livro. Para minha surpresa, após ler, me retornou o contato falando da intenção de adaptá-lo para o teatro. Fiquei feliz demais e passei o contato da editora. Assim tudo começou. Quando li a primeira versão do texto e depois ouvi a primeira leitura, foi uma sensação indescritível. Ver meu livro e um trabalho realizado ao longo de 40 anos tomando rumos inesperados e atingindo novos horizontes é extremamente gratificante, pois, além de médica, sou ativista atenta às demandas de pessoas tão discriminadas. Tenho muito a agradecer por esse enorme presente – revela a médica.
Elenco
GILBERTO GAWRONSKI – Ator e diretor, criou “Uma História de Borboletas”, “A Dama da Noite” ( Prêmio Sharp de Melhor Direção) e “Zona Contaminada”, de Caio Fernando Abreu. Dirigiu os musicais “Xica da Silva” e “Estúpido Cupido”, a ópera “Erwartung”, de Schoenberg. Ganhou duas vezes o prêmio Shell de Teatro. Atuou em “A Ira de Narciso” e foi cenógrafo em “Por Uma Vida um Pouco Menos Ordinária”. Ganhou o troféu Mambembe pela sua montagem de “Na Solidão dos Campos de Algodão”. Dirigiu “Meu Destino é Pecar”, da Cia dos Atores, e a trilogia infantil “Andersen, O Contador de Histórias”. Recebeu o Prêmio Mambembe em teatro infantil por sua performance na peça “Chapeuzinho Vermelho Em Busca do Coração Secreto”. Ganhou o Prêmio Qualidade Brasil por sua direção em “Mulher Desiludida”.
CLARISSE DERZIÉ LUZ – atriz e diretora, trabalhou com os diretores Eduardo Tolentino, Domingos Oliveira, João Bethencourt, Celso Nunes, Flávio Rangel, Roberto Thalma, Hamir Haddad, Atílio Riccó, Henrique Martins, Clarisse Niskier, Eduardo Wotzik, Gilberto Gavronski, Herval Rossano, Marcos Sherthman, Jorge Fernando, Bia Lessa, Fred Mayrink entre outros. Ganhadora do prêmio APTR por “À Beira do Abismo me Cresceram Asas”, fez parte do Grupo TAPA por sete anos.
SUZY BRASIL – Expoente da comunidade LGBTQI+, é uma estrela do humor tanto dos palcos quanto da televisão e da internet. Atualmente contratada pelo Multishow, faz parte do elenco da quarta temporada do programa “A Vila”. Na emissora, também participou do programa “Ferdinando Show”, em suas três primeiras temporadas, e do documentário “Ferdinando.doc”. No teatro, atuou nos espetáculos “Controle Remoto” e “Uma Fortuna Pra Dois”, entre outros, com enorme sucesso de público. Nas casas noturnas de todo o Brasil, se apresenta há mais de 26 anos. Foi criada e é interpretada pelo ator Marcello Souza e conquistou em 2023 o Prêmio do Humor (PRIO), idealizado por Fábio Porchat, por sua performance em “Bye Bye Bangu”.
Serviço:
Temporada – De 7 a 28 de abril
Estreia – Turma OK
Dia e horário – Sexta-feira, 7 de abril, às 20h
Endereço – Rua dos Inválidos, 39, Centro – Rio de Janeiro
Entrada: gratuita
Duração: 60 minutos
Classificação etária – 14 anos
Programação:
Dia 12, quarta-feira, às 20h: Arena Carioca Chacrinha – R. Sd. Elizeu Hipólito, s/n – Pedra de Guaratiba
Dia 14, sexta-feira, às 19h: Arena Carioca Fernando Torres – R. Bernardino de Andrade, 200 – Madureira
Dia 19, quarta, às 19h: Arena Carioca Jovelina Pérola Negra – Praça Ênio, s/n – Pavuna
Dia 28, sexta, às 19h – Arena Carioca Dicró – Av. Brás de Pina, s.n, Parque Ary Barroso. Penha. Entrada pela Rua Flora Lobo
Ficha Técnica:
Direção e idealização: Gilberto Gawronski
Elenco: Clarisse Derzié Luz, Gilberto Gawronski e Suzy Brasil
Figurino: Tiago Ribeiro
Iluminação: Vilmar Olos
Produção: Wagner Uchôa
Fotografia: Charles Pereira
Redes sociais: Oseias Barbosa
Realização: GPS Produções Artísticas
Rede social: @sentencadevida