Em seu quarto ano de criação o Museu Virtual Rio Memórias (www.riomemorias.com.br) acaba de criar mais conteúdos diversificados, muitos inéditos e surpreendentes, para seus visitantes. Trazendo sempre pesquisas realizadas de forma contínua por especialistas vinculados às maiores universidades do país. As novidades para este início de 2023 ficam por conta de três galerias, que serão lançadas no dia 28 de março, das 18h às 22h, em roda de samba com Marquinho China no Renascença Clube, no Andaraí. Tudo com entrada franca, mediante retirada de ingresso no Sympla.
Com a chegada de RIO DAS ARTES (com curadoria de Frederico Coelho), RIO SUBURBANO (de Rafael Mattoso) e RIO OPERÁRIO (de Antonio Edmilson Rodrigues), o Rio Memórias passará a ter quinze galerias. Elas nasceram aos poucos, desde a inauguração do museu digital, em agosto de 2019. Com mais de 180 mil visitantes totais, o site vem sendo acessado por cerca de 12 mil pessoas por mês. Tudo isso está disponível para o público na palma da mão, seja no celular, tablet ou, ainda, no computador, em diversos formatos – podcasts, site e redes sociais – e de forma gratuita.
“Cada galeria traz um novo olhar sobre o Rio, revela narrativas e perspectivas pouco conhecidas e nos faz avançar na nossa missão de divulgar e valorizar a história da cidade. Só conhecendo o passado podemos dar conta do nosso futuro, refletindo sobre a cidade que queremos ter daqui a 10 ou 15 anos e engajando cada cidadão no cuidado com o rico e diversificado patrimônio material e imaterial”, analisa Livia Sá Baião, idealizadora do Rio Memória. Neste mesmo dia também teremos o lançamento de dois livros que abordam as histórias e memórias suburbanas.
Das artes ao subúrbio, passando pelos operários
A galeria RIO DAS ARTES vai propor um passeio pelos principais nomes, movimentos e obras das artes visuais que agitam a cidade desde o período colonial, tanto aqueles vinculados às instituições oficiais e privadas, quanto os grupos que se formaram autonomamente ou, ainda, os artistas independentes. Para preencher as seis salas online, o curador Frederico Coelho escolheu um punhado de personagens, eventos e momentos – os inesquecíveis e os raramente lembrados.
As memórias procuram pensar o lugar da arte no Rio e seu papel decisivo para o carioca. Em destaque, exposições, debates e espaços que marcaram a vida cultural do Rio como as famosas exposições Opinião 65 e Nova Objetividade Brasileira e a relação do artista plástico Hélio Oiticica com a Estação Primeira de Mangueira.
“Trouxemos charges e capas de revistas ilustradas, como a Fon-Fon e a Careta, revisitamos a fundação do Museu de Arte Moderna (MAM) e do Ateliê do Engenho de Dentro, da psiquiatra Nise da Silveira, e abordamos as modernas formas de se expressar visualmente, entre elas a fotografia, as instalações, os happenings e as performances, que evocam os tempos do experimentalismo”, situa Coelho.
Já a galeria RIO SUBURBANO é um convite para compreendermos a história das áreas que surgiram a partir da construção de fábricas e da linha ferroviária, suas formas próprias de organização espacial, cultural e de mobilidade. Seus saberes e tradições renovados, suas identidades e formas de ser e estar nessa cartografia urbana e afetiva. A galeria toda é uma celebração às práticas próprias de seus habitantes.
Com curadoria de Rafael Mattoso, a galeria leva ao visitante, nessas cinco salas online, como é o subúrbio em suas diversas manifestações simbólicas e sensoriais, ao mesmo tempo em que lê sobre contextos históricos e processos de formação que permitem melhor compreender essas dinâmicas.
“Reunimos memórias que dão conta das miudezas da vida suburbana, como correr atrás e deliciar-se com doces de Cosme e Damião, soltar pipa nas ruas e nas lajes, se apropriar da calçada ou das vias públicas para bater um traço de concreto ou para comemorar alguma data importante”, enumera Mattoso.
Por fim, a galeria RIO OPERÁRIO traz um panorama da vida, do trabalho e das lutas dos operários do Rio, principalmente das fábricas de tecidos que, desde o final do século XIX até os anos 1930, formaram bairros e influenciaram os modos de vida, acrescentando música e poesia à cidade e demarcando espaços urbanos que ganharam a condição de lugares de memória. Foi esse “mundo do trabalho” que, de certa forma, promoveu a modernização da cidade.
As vilas operárias, os pagamentos diferentes para homens e mulheres, o emprego das crianças nas fábricas, os times de futebol e outros aspectos que envolvem a formação da classe trabalhadora carioca são desenvolvidos em sete salas. Tudo sempre permeado pelas questões raciais, sociais e de gênero.
“Na sala ‘Greves’, por exemplo, abordamos as lutas operárias, partindo das paralisações de escravizados até chegar nas grandes greves do século XX. Extrapolamos o que é considerado o marco das greves no Rio de Janeiro – a paralisação dos tipógrafos em 1858 – e rememoramos as paralisações de pessoas em situação de cativeiro, como a que ocorreu no fim dos anos 1820, quando os trabalhadores escravizados da Real Fábrica de Pólvora, no Jardim Botânico, se uniram aos trabalhadores livres para reivindicar melhorias nas condições oferecidas, incluindo diárias e dieta alimentar”, situa Edmilson.
O samba costura arte, subúrbio e operariado
No evento no Renascença, Marquinho China estará à frente de uma roda fortíssima, cantando obras primas do gênero musical mais suburbano que existe, como “Apoteose do samba” (Silas de Oliveira), “Sou mais o samba” e “Filosofia do samba” (Candeia). Acompanhado por Rafael Mallmith (violão 7 cordas), Léo Pereira (cavaquinho), Marco Basilio (surdo e percussão), Rodrigo Jesus (pandeiro) e Marcelo Pizzott (tantan), China, que também é professor de história, vai costurar o repertório com o que sabe sobre arte, subúrbio e operariado.
Sobre os curadores
FREDERICO COELHO é Doutor em Literatura pela PUC-Rio, historiador, ensaísta, pesquisador e professor. Entre 2009 e 2011 foi foi curador-assistente de artes visuais do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Desde agosto de 2014, é Professor Adjunto dos Departamento de Letras da PUC-Rio e é, atualmente, Diretor do Museu Universitário Solar Grandjean de Montigny. É autor dos livros “Eu, brasileiro, confesso minha culpa e meu pecado” (2010) e “A semana sem fim – Celebrações e memória da Semana de Arte Moderna de 1922” (2012), entre outros.
RAFAEL MATTOSO é Mestre em História Comparada pelo PPGHC/UFRJ e Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Urbanismo do PROURB/UFRJ. Professor do Curso de Licenciatura em História da UNISUAM, da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) e da Secretaria de Estado e Educação do Rio de Janeiro (SEEDUC/RJ). Colunista da VEJA Rio e da Rádio Roquette Pinto. Organizador Organizador dos livros “Diálogos Suburbanos: identidades e lugares na construção da cidade” de 2019, “Subúrbios: espaços plurais e múltiplos do Rio de Janeiro” de 2022 e “Um Grande Méier de Histórias: heranças. caminhos e lembranças dos subúrbios cariocas”, de 2023.
ANTONIO EDMILSON RODRIGUES é Historiador, professor associado da PUC-Rio e professor adjunto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Tem experiência na área de História, com ênfase em História do Brasil, atuando principalmente nos temas: Rio de Janeiro, cultura urbana, modernidade, cultura moderna e cidades. É autor de diversos livros sobre a história do Rio como “João do Rio: a cidade e o poeta”, “Confeitaria Colombo: sabores de uma cidade” e “Nair de Teffé: vidas cruzadas”.