No terceiro espetáculo da Série Mundo, Orquestra Sinfônica Brasileira celebra Portugal

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Depois de homenagear o Azerbaijão e a Espanha, a Série Mundo 2022 da Orquestra Sinfônica Brasileira celebra Portugal, no palco da Sala Cecília Meireles, dia 27 de junho. Para celebrar a terra de Camões, a orquestra recebe dois importantes artistas portugueses: o brilhante maestro Pedro Carneiro e o talentoso pianista Bernardo Santos. O programa é eclético e traz uma série de obras inventivas dos compositores Hermeto Pascoal, Viet Cuong, Camille Saint-Saëns e Berta Alves de Sousa – figura elementar da música lusitana. A realização da Série Mundo conta com o patrocínio do Bradesco. 

A obra do compositor, arranjador e multi-instrumentista Hermeto Pascoal é marcada por um apego incondicional ao surpreendente. Seja pelos instrumentos inusitados, seja pelas curiosas linhas melódicas exploradas no seu vastíssimo catálogo, o alagoano nunca falha em encontrar novas maneiras de abordar a criação musical. A peça que abre esse programa, Entrando pelos canos, é mais um exemplo primoroso dessa constante experimentação. Com uma proposta imaginativa e ao mesmo tempo radical, a composição foi escrita para uma instrumentação peculiar: canos, que são tocados de forma percussiva. 

E a percussão segue em destaque na segunda peça do programa. A instigante Re(new)al, do compositor vietnamita-americano Viet Cuong, é construída a partir de três movimentos contínuos, cada um inspirado no poder das energias hídrica, eólica e solar. O primeiro movimento transforma copos de cristal afinados em sinos de mão, enquanto o conjunto de sopros lentamente submerge o som dos solistas. No movimento central, solistas são transformados em pás de uma turbina eólica vertiginosa, tocando desafiadores padrões rítmicos. O movimento final simula um nascer do sol e evoca o brilho da luz do sol com instrumentos de percussão. 

Embora menos conhecida do que seus contemporâneos, a pianista, maestrina e compositora portuguesa Berta Alves de Sousa é um nome de fundamental importância para a música portuguesa do século XX. Aluna de piano de Wilhelm Backhaus, Berta estudou composição com figuras como George Mingot e José Vianna da Motta, sendo a primeira mulher a reger a Orquestra Sinfônica do Porto. As Variações sobre uma Cantiga Alentejana – primoroso trio com piano que será ouvido nesse programa – evidenciam toda a força criativa da compositora: nessa obra, ela transfigura de modo quase alquímico um tema tradicional português, atualizando-o ao longo de sete variações, todas de estilo e caráter contrastantes. 

A admiração de Camille Saint-Saëns por Portugal é atestada não apenas pelas várias visitas que o compositor empreendeu ao país, mas também pela sua composição “Uma noite em Lisboa”, barcarola orquestral escrita e estreada em solo português. Apesar disso, é no Egito que o francês foi buscar inspiração para escrever aquele que seria seu último concerto para piano, o de número cinco, em Fá maior, Op. 103. Exótica, de doçura oriental e constelada de efeitos intrigantes, a peça foi escrita para ser estreada pelo próprio Saint-Saëns, o que talvez justifique o seu alto grau de dificuldade técnica. São três os movimentos: no “Allegro animato”, escalas suspirantes e temas de absoluto frescor dão à peça um caráter quase improvisado; o “Andante” surpreende pela sua incisão e energia, mas não dispensa interlúdios calorosos de lirismo. Ali, mais do que nunca, ouve-se a resplandecência egípcia. De acordo com o próprio Saint-Saëns, o poderoso finale, um “Molto allegro”, expressa “a alegria de uma travessia do mar”. É por isso que, no início do movimento, piano e tímpano evocam o som do motor de um navio. Obsessão rítmica e virtuosismo cintilante também marcam presença no movimento, que encerra a noite em ares de glória.

  

A ORQUESTRA SINFÔNICA BRASILEIRA: 

Fundada em 1940, a Orquestra Sinfônica Brasileira é reconhecida como um dos conjuntos sinfônicos mais importantes do país. Em seus 81 anos de trajetória ininterrupta, a OSB já realizou mais de cinco mil concertos e é reconhecida pelo pioneirismo de suas ações, tendo sido a primeira orquestra a realizar turnês pelo Brasil e exterior, apresentações ao ar livre e projetos de formação de plateia.

Composta atualmente por mais de 70 músicos brasileiros e estrangeiros, a OSB contempla uma programação regular de concertos, apresentações especiais e ações educativas, além de um amplo projeto de responsabilidade social e democratização de acesso à cultura. 

Para viabilizar suas atividades, a Fundação conta com a Lei Federal de Incentivo à Cultura, tem o Instituto Cultural Vale como mantenedor e a NTS – Nova Transportadora do Sudeste, como patrocinadora master e a Brookfield como patrocinadora, além de um conjunto de copatrocinadores e apoiadores culturais e institucionais.

  

PEDRO CARNEIRO:

Percussionista, chefe de orquestra, compositor, pedagogo e inventor. É cofundador e diretor artístico da Orquestra de Câmara Portuguesa (OCP); Notas de Contacto (ensemble inclusivo); Jovem Orquestra Portuguesa (JOP) e diversos projetos de cunho social, como a Orquestra dos Navegadores – Oeiras (ON). 

Tocou e dirigiu em estreia absoluta mais de uma centena de novas obras e colabora com músicos prestigiados como os quartetos Tokyo e Arditti, Sofia Gubaidulina, Gustavo Dudamel, entre muitos outros. Pedro Carneiro apresenta-se como solista ou maestro convidado de diversas orquestras: Los Angeles Philharmonic, Seattle Symphony, Budapest Festival Orchestra, Helsinki Philharmonic, Vienna Chamber Orchestra, Swedish Chamber Orchestra, MDR-Sinfonieorchester, SWR Symphonieorchester, English Chamber Orchestra, Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB), BBC National Orchestra of Wales, Orquestra Sinfônica da Radio Romena, entre outras. Apresenta-se regularmente como maestro e solista/diretor, dirigido obras concertantes a partir do teclado da marimba. Recebeu o Prémio Gulbenkian Arte e a Medalha de Honra da Cidade de Setúbal, entre outras distinções. 

A sua extensa discografia (que inclui registos a solo, música de câmara, obras concertantes e improvisação) está disponível em diversas etiquetas discográficas, como a ECM Records, Zig-Zag Territoires, Rattle, Clean Feed, entre outras. 

 

BERNARDO SANTOS:

Bernardo Santos, pianista português, apresenta-se regularmente em concertos a solo, em música de câmara e com orquestra em quatro continentes, em salas como a Casa da Música, Convento de São Francisco, Teatro Aveirense e Teatro Rivoli em Portugal; Sala Cecília Meireles, Teatro Amazonas e Palácio das Artes no Brasil; Fairfield Halls, Royal Albert Hall e St. James Piccadilly Church em Londres, National Concert Hall em Dublin e Tonhalle Düsseldorf, entre muitas outras. 

Foi convidado para vários festivais na Europa, América do Sul e Ásia, tanto solo como em música de câmara. Além disso, conta com vários concertos transmitidos gravados para a rádio Antena 2 e destaque de gravações suas na rádio colombiana Señal Clásica e na Classic FM. No The Guardian, foi descrito como um prodígio virtuoso. Como solista, Bernardo Santos teve a oportunidade de partilhar o palco com a Orquestra Sinfónica de Minas Gerais, Orquestra de Câmara do Amazonas, Orquesta Filarmónica de Cali, Vidin State Philarmonic Orchestra, Orquestra Clássica do Centro, Orquestra Filarmonia das Beiras, entre outras, tendo tocado sob direção de maestros como António Vassalo Lourenço, Artur Pinho, Charles Gambetta, David Wyn Lloyd, Hilo Carriel, Jorge Mario Uribe, Leandro Alves, Kira Omelchenko, Marcelo de Jesus, Miguel Campos Coelho e Sílvio Viegas. 

Bernardo Santos tem conciliado a sua carreira artística com investigação em música portuguesa do século XX, sendo responsável pela edição crítica e de obras de Berta Alves de Sousa e Frederico de Freitas. A sua pesquisa atual focae na música para piano do compositor Ruy Coelho. Recentemente, Bernardo foi responsável por lecionar masterclasses em diversas escolas e universidades no Brasil, Colômbia e Portugal. 

Bernardo Santos mantém uma carreira de música de câmara bastante ativa, tendo estudado com António Chagas Rosa, Eugene Asti e Martino Tirimo. Colabora frequentemente com artistas como André Lacerda, Burak Ozkan, David Bento, David Wyn Lloyd, Diego Caetano, Inês Filipe, Jaroslav Mikus, o Quarteto Belém e o Coro Sinfónico Inês de Castro. Participou também no projeto de CD “Curtas” do guitarrista e compositor Israel Costa Pereira. Em 2020 gravou, juntamente com David Lloyd, as três sonatas para violino e piano de Edvard Grieg, para a Da Vinci Publishing, tendo sido elogiado como um pianista cuja “performance animada traz virtuosidade e clareza ao duo, apoiando habilmente quando necessário e brilhando em momentos solísticos” (Piano Journal 2021). No verão de 2021 realizou a gravação dos Quintetos para Piano de Saint-Saëns e Dvorak com o Quarteto Belém, também para a Da Vinci Publishing. 

O pianista frequenta atualmente o Programa Doutoral em Música (Performance) na Universidade de Aveiro. Formado pelo Trinity Laban Conservatoire of Music and Dance (Londres), Ljubljana Academy of Music, Conservatori del Liceu (Barcelona) e pela Universidade de Aveiro (Prémio Município de Aveiro), Bernardo Santos estudou com Dubravka Tomsic, Deniz Arman Gelenbe, Josep Colom e Álvaro Teixeira Lopes, tendo iniciado o seu percurso no piano com Klara Dolynay. Durante os seus estudos, foi e tem sido bolseiro do Trinity Laban (Trinity College London Scholar) e das Fundação GDA, Fundação Dionísio Pinheiro e Alice Cardoso Pinheiro e Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). Atualmente, Bernardo Santos ocupa os cargos de presidente da World Piano Teachers Association (WPTA) Portugal e de diretor artístico da série de concertos “Ciclos Lua Nova”, a decorrer na Fundação Dionísio Pinheiro e Alice Cardoso Pinheiro, em Águeda. 

 

PROGRAMA:

Hermeto Pascoal – Entrando pelos canos

Viet Cuong – “Re(new)al”

Berta Alves de Sousa – Variações sobre uma Cantiga Alentejana

Tema – Allegreto

1ª Variação – Animato

2ª Variação – A Russa

3ª Variação – Dolorosamente

4ª Variação – Barcarolla

5ª Variação – Monodia

6ª Variação – Valsa Vienense

7ª Variação – O Sonhador

Cadenza – Finale

Camille Saint-Saens – Concerto para Piano nº 5

             I.        Allegro Animato

           II.        Andante

         III.        Molto Allegro

 

 

SERVIÇO:

OSB – Série Mundo | Portugal

Dia 27 de junho de 2022 (segunda-feira), às 19h

Local: Sala Cecília Meireles (Rua da Lapa, nº 47 – Centro, Rio de Janeiro)

Ingressos: R$40,00 (R$20,00 meia)

À venda na bilheteria da Sala e no site Eleven Tickets