Governo investe em ações de humanização e acolhimento em meio à pandemia

0
617

Para muitos cidadãos fluminenses, o período de isolamento social necessário para evitar a propagação do novo coronavírus tem causado certo desconforto, principalmente com relação à saúde mental da população do Rio de Janeiro. Pensando em minimizar os efeitos causados pela quarentena, o Governo do Estado investe em ações de humanização e acolhimento, por meio de iniciativas criadas pelas Secretarias de Vitimados, de Cultura e Economia Criativa, de Educação / Degase, de Ciência, Tecnologia e Inovação / Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe), além da Fundação Leão XIII. O Portal RJ reuniu alguns destes projetos e conversou com alguns voluntários e pessoas beneficiadas pelas ações de humanização.

Visitas virtuais aos pacientes internados no Hupe:

O Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe), uma das unidades de saúde da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), criou o projeto “PSI Covid”, que promove encontros virtuais entre os paciente com covid-19 internados na unidade e os familiares. As vídeochamadas, que são intermediadas por professores e alunos das áreas de Psiquiatria e Psicologia da Faculdade de Ciências Médicas da Uerj, surgiram como uma alternativa para que as famílias pudessem se falar durante o período do tratamento da doença.

– As experiências são muito emocionantes, tanto para os pacientes, quanto para a equipe médica. Aproveitamos este momento para também identificar, entre os familiares daquela pessoa, se há alguém em sofrimento psicológico – contou a coordenadora do projeto, a professora e médica Silvana Ferreira.

– Observamos que as visitas virtuais humanizam muito o processo de internação e, além disso, podem diminuir os agravos de saúde dos pacientes, pois os sintomas psiquiátricos podem piorar o prognóstico da doença – ressaltou Silvana, lembrando que os aparelhos celulares foram doados pelos próprios integrantes da equipe e passam por um criterioso processo de higienização a cada ligação.

 

Leitura de histórias e poemas às pessoas do grupo de risco:

Quem está cumprindo o isolamento social, muitas vezes pode se deparar com a solidão por não ter com quem conversar. Por isso, a Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa lançou o “Histórias por telefone”, iniciativa que propõe que as pessoas ouçam poemas e histórias lidas por voluntários.

‘Tia’ Ro, de 62 anos, foi a pessoa que inspirou o projeto. Moradora da Rocinha e amante da literatura, ela contou que foi uma ligação – com um poema e uma música – que a tirou da depressão.

– Atender aquele telefonema foi tudo o que eu precisava. Sou do grupo de risco e estou levando muito a sério o isolamento. Por isso, não estou saindo de casa e isso me deixava muito triste. Ia até o portão e não via ninguém nas ruas. Quando ouvi a música e a poesia por telefone, acalmou meu coração – contou.

A escritora Cris Ávila é uma das voluntárias do “Histórias por telefone”. Segundo ela, a receptividade dos ouvintes foi muito boa.

– Tive a oportunidade de ler meus próprios poemas. Sinto muita gratidão por poder trocar com as pessoas. É uma energia muito bacana que conseguimos sentir mesmo que por telefone – explicou Cris.

 

Atendimento psicológico às famílias das vítimas e grupos de risco:

O projeto de atendimento psicológico online da Secretaria de Estado de Vitimados, que completou três meses de atuação, atendeu 869 pessoas. O auxílio, voltado para famílias de vítimas fatais da covid-19, incluiu também agentes de segurança pública, pacientes em recuperação que estavam em isolamento social, além de idosos e pessoas em situação vulnerável diante da pandemia. A iniciativa está em fase de encerramento das atividades e teve, ao todo, 134 psicólogos voluntários.

Aos 67 anos, dona Maria Imaculada se viu na difícil situação de encarar a quarentena sozinha. Com a perda recente do marido, vítima de câncer, e a filha, que, com coronavírus, precisou entrar em isolamento, ela buscou o apoio psicológico da Sevit.

– Estava muito deprimida. Eu costumava fazer várias atividades, como pilates e caminhada, e, de repente, tudo parou – comentou dona Imaculada.

Entre as queixas mais frequentes estavam crises de ansiedade e depressão. Os relatos também incluíram sintomas como insônia, oscilação de humor, irritabilidade e dificuldade de concentração. A maioria dos casos foi acompanhada de forma contínua pelos profissionais.

– Sinto que estou fiz a diferença na vida destas pessoas. Muitas nos disseram que ficavam esperando com alegria o dia da sessão. Costumava conversar com os pacientes, orientá-los com técnicas de respiração e, principalmente, dizer que vai ficar tudo bem – contou a psicóloga voluntária, Erica Delgado.

 

Envio de mensagens positivas aos idosos em abrigos:

Já a Fundação Leão XIII, que administra três abrigos para idosos no estado, desenvolveu a campanha “Circulando afeto: fique em casa, espalhe amor”, que estimula o envio de mensagens carinhosas para ajudar os residentes a se sentirem menos sozinhos durante o isolamento social, uma vez que as visitas estão suspensas durante este período. Ao todo, a instituição, que acolhe 159 pessoas da terceira idade, já recebeu cerca de mil mensagens, entre textos e vídeos.

Os filhos de Carolina Machado, Vicente e Bethânia, de 11 e 10 anos, respectivamente, são os autores de vídeos fofos para os vovôs e vovós. Segundo a mãe das crianças, após da morte do avô, os filhos ficaram sem referências de idosos em casa.

– Quando vi a postagem nas redes sociais da Fundação Leão XIII, achei que seria interessante trabalhar a questão do luto com os meus filhos. Meu pai, que era avô das crianças, faleceu em abril, logo no início da pandemia, e era o único idoso em nossa família. Eles se empolgaram com os vídeos e gostam de mostrar algumas situações da nossa rotina em casa. A Bethânia já disse que, quando o isolamento acabar, quer visitar os idosos nos abrigos – falou Carolina.


Matando a saudade da família por meio virtual:

Os menores que cumprem medidas socioeducativas nas unidades do Departamento Geral de Ações Socioeducativas (Degase), ligado à Secretaria de Estado de Educação, estão se utilizando da tecnologia para matar as saudades da família enquanto os encontros presenciais não podem ocorrer. No Cense Escola João Luís Alves (EJLA), na Ilha do Governador, que abriga 134 internos, de segunda-feira a sábado, um grupo de cada um dos seis módulos e anexo pode fazer ligações de vídeo pelo computador, por tablets recém-adquiridos e também por telefones celulares.

Em uma dessas ligações, o jovem V. pode dizer à mãe que está com saudades e perguntou sobre como estão demais familiares. Já J. pediu que a mãe o levasse biscoitos em um sábado, dia de entrega de pertences aos jovens.

O Degase adquiriu 16 tablets, ao todo, e os aparelhos foram distribuídos entre as nove unidades de internação. Os encontros virtuais também estão sendo utilizados pelos internos para que possam conversar, além dos familiares, com os defensores e advogados.