O Sesc Copacabana recebe de 28 de novembro a 15 de dezembro, a estreia
nacional do espetáculo As Açucenas, com o Núcleo de Vivências em Arte –
Nuviar, com sede em Paraty-RJ. A peça instaura uma atmosfera onírica a
fim de homenagear o poeta Federico Garcia Lorca e através dele compor
uma pequena ode a poesia. Evocando as presenças da noite, da lua, dos
duendes, dos peixes, da faca e do cutelo, os artistas Davi Cunha, Marcos
Rangel e Rodrigo Carinhana emprestam sua carne, seu sangue, suas
memórias ancestrais, seu suor, seus gestos, e pouco a pouco assim, o
público verá ressurgir diante dele o corpo desaparecido de Lorca,
assassinado pelos fascistas do General Franco. As sessões de As Açucenas
acontecem de quinta a domingo, às 18h, com ingressos a partir de R$ 15.
As Açucenas pretende atravessar as fronteiras e limitações corpóreas,
estéticas e conceituais de linguagem a fim de atingir a plenitude do
estado de ser dos atores. Nesse sentido, a obra propõe um encontro com
os espectadores que vai além das convenções teatrais como forma de
expressão artística, compartilhando uma estrutura de ações vivas e
precisas no espaço de maneira plena e sincera que porta fragmentos da
vida e obra de Lorca, iluminando toda a sua densidade poética e humana.
– Em As Açucenas, evocamos a memória poética de um corpo desaparecido.
Um corpo insepulto que, por sua trajetória de vida, seu posicionamento
político e sua conduta afetiva, foi assassinado. Decidimos trazer para a
cena Federico García Lorca neste momento por acreditarmos que, assim
como em sua poesia, a biografia do poeta e dramaturgo traz consigo
pontos comuns para refletirmos nos dias de hoje. Sua poesia, obra
exímia, guia-nos rumo às profundezas do universo dos símbolos, da morte,
da melancolia e dá voz a dores e dramas, mas também fala de amor e
esperança e traz sensibilidade e poesia como possibilidade de
transcender o obscurantismo pelo qual passamos no momento –, comenta o
diretor Davi Cunha.
A concepção artística e estética do trabalho é resultante do contato
entre os atores, de uma seleção de poesias – de acordo com a
identificação de cada um com o poema a ser falado – de cantos
tradicionais espanhóis e de outras culturas e das ações criadas em sala
de trabalho diariamente. Aos poucos foram entrando no espaço objetos
para potencializar essas ações. Diante dessa proposta, As Açucenas não
possui cenário e nem um “figurino” enquanto conceito tradicional das
artes cênicas, e sim a utilização de uma roupa de trabalho, no caso,
calças e camisas sociais, que fogem a caracterização, pois não há
personagens.
A direção musical tem a peculiaridade de não possuir uma percepção
inicialmente estética e simbólica ligadas a vida e obra de Garcia Lorca,
mesmo que em alguns momentos essas características vibrem em sintonia
com o poeta. As sonoridades dos objetos, instrumentos e vozes se fundem
a serviço da presentificação das ações. As canções não possuem a função
tradicional de trilha, mas evocam a própria ação. Foram chegando ao
trabalho muito mais pela suas temperaturas, cores e características
energéticas. Algumas carregam sentido na vida do poeta, como Gallo Rojo
Gallo Negro, canção composta em 1963, por Chico Sánchez Ferlosio,
durante a ditadura franquista, outras são poemas musicados, como Canción
de Jinete, musicado por Paco Ibañez, e outras ainda de diferentes
tradições e lugares do mundo. Sobre estas, nada de simbólico pode ser
elaborado em relação a vida e obra do poeta, mas portam qualidades
vibratórias específicas que compõem a dramaturgia musical da presente
obra.
O certo é que a estética pouco a pouco foi se consolidando sempre a
serviço do trabalho artístico. Espetáculo teatral, sarau poético,
performance, obra artística, encontro… Os nomes são tantos que pode-se
flertar com a subjetividade e deixar a cargo de quem o presenciar.
O que está guiando o trabalho do grupo atualmente são as influências
vividas pelos três artistas em suas trajetórias. Trazem nos corpos as
experiências vividas nas salas de trabalho com os mestres e grupos de
pesquisa por onde estiveram e nas almas os anseios, inquietações e
ponderações como combustível para o fazer artístico. Dessas experiências
desenvolvem uma linguagem própria de trabalho por meio de elementos que
consideram fundamentais: impulso, energia, centro, fluidez, equilíbrio,
precisão, ritmo e contato. Através desses princípios mergulham em
processos orgânicos e não mecanizados para a instauração do que chamam
de Terreno Criativo, lugar de fértil busca para o ator, um meio de
aprofundamento sobre si através da sua prática. Outro forte pilar de
trabalho do Núcleo é a pesquisa sobre os cantos de tradição e a ação do
canto. “Acreditamos que elas carregam aquilo que de alguma forma está
dissipado e muitas vezes ignorado na arte contemporânea: a mobilização
da energia para a realização do ato, da ação.” Pensando em revisitar
instrumentos antigos de canalização da energia, o grupo desenvolve uma
pesquisa minuciosa com cantos populares e de tradição.
O Nuviar é formado pelos atores-pesquisadores Davi Cunha (RJ), Marcos
Rangel (RS) e Rodrigo Carinhana (SP), que integram outros importantes
grupos de pesquisas teatrais: o Ponte dos Ventos (Grupo Internacional
dirigido e coordenado pela atriz Iben Nagel Rasmussen), desde 2018; o
Patuanú (Núcleo de Pesquisa em Dança de Ator), coordenado por Carlos
Simioni, desde 2010; e o APA (Ateliê de Pesquisa do Ator), projeto do
Centro Cultural Sesc Paraty em parceria com Stephane Brodt (Amok Teatro)
e Carlos Simioni (Lume Teatro), desde 2016, e Thaís Teixeira, produtora
cultural especializada em Artes cênicas, cearense, moradora do Rio de
Janeiro, há 14 anos, onde trabalhou intensamente na produção cultural
com sua produtora EmCartaz Empreendimentos Culturais, e nos últimos anos
passou a viver em Paraty, onde cruzou o seu caminho com os artistas e
passou a integrar o NUVIAR.
O Nuviar foi fundado em 2013 com o objetivo de criar um espaço para a
pesquisa artística no tempo dilatado, através de um trabalho diário onde
são experimentados questionamentos sobre o ofício do ator/performer.
Ficha técnica
Concepção e dramaturgia: Nuviar
Direção: Davi Cunha
Atores: Davi Cunha, Marcos Rangel e Rodrigo Carinhana
Supervisão Geral: Rodrigo Mercadante
Colaboradores: Carlos Simioni e Camilo Scandolara
Direção Musical: Rodrigo Carinhana
Iluminação: Aurélio de Simone e Guiga Ensá
Assessoria de Imprensa: Ney Motta
Designer Gráfico: Fábio Viana
Fotografia: Dalton Valério
Produção: Thais Teixeira
Realização: Núcleo de Vivências em Arte – Nuviar
Serviço:
Local: Sesc Copacabana
Endereço: Rua Domingos Ferreira, 160 – Copacabana, Zona Sul do Rio de
Janeiro
Temporada: 28 de novembro a 15 de dezembro de 2019
Dias e horário: de quinta a domingo, às 18h
Ingressos: R$ 7,50 (associado do Sesc), R$ 15 (meia-entrada), R$ 30
(inteira)
Informações: (21) 2547-0156
Horário de funcionamento da bilheteria: terça a sexta das 9h às 20h,
sábados, domingos e feriados das 12h às 20h.
Classificação: 12 anos
Duração: 60 minutos